Título: Miro Teixeira critica passividade de líderes governistas no Congresso
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2005, Política, p. A8

O governo Lula não está passando apenas por um processo de investigação e sim por uma verdadeira devassa. O diagnóstico é do ex-ministro das Comunicações, deputado federal Miro Teixeira (PT-RJ), que atribui ao governo uma postura de "agente passivo", longe do debate político. "Não existe apenas a investigação de um fato determinado, existe uma devassa e o governo, não sei se consciente ou inconscientemente, não reage. Não é reagir tentando impedir, é reagir debatendo, expondo seus líderes no debate. O governo virou agente passivo no processo", disse ao Valor o parlamentar, que já integrou a CPI Mista do Orçamento (1993) e a CPI Mista PC Farias (1992), e declarou nunca ter visto investigação semelhante. O deputado cobra uma atitude mais enérgica dos líderes do PT e dos partidos da base aliada na resposta aos ataques da oposição, que acabaram "por transformar o processo das investigações em campanha eleitoral". "Percebe-se que a oposição não tem muito treino como oposição porque acabou enveredando pelo caminho errado. A oposição deveria investigar os fatos sem antes eleger um alvo. O seu erro foi ter priorizado a sucessão presidencial", afirmou Miro. "Falta uma presença maior dos líderes nesse debate. Percebo que há uma inibição. O debate tem ficado no ambiente parlamentar, onde só aparecem líderes da oposição". Em sua avaliação, a ausência de respostas imediatas por parte dos parlamentares da base e do PT poderá levar a uma "desconstrução ou até mesmo à demolição do governo". "O (presidente) Lula está sendo obrigado a falar sobre um assunto que deveria estar sendo tratado no parlamento. Ele já deu o seu recado ao falar a nação", complementou Miro. O ex-ministro não se arrependeu de ter ingressado na legenda há seis meses, e, ao contrário de alguns deputados da executiva regional do PT, no Rio, defende a permanência dos integrantes do PT envolvidos no suposto esquema do mensalão, denunciado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), até a conclusão das investigações. "Não imagino que pessoas acusadas sejam previamente condenadas. Existem processos em andamento e a conclusão desses (processos) indicará a responsabilização ou não dos réus. Quem se sentir desconfortável tem o direito à renúncia. A mim arrepia que se comece um processo pela sentença", afirmou Miro. O deputado considera o projeto de reforma política uma verdadeira anti-reforma, uma vez que reduz de 5% para 2% a cláusula de barreira. Ele defende uma transparência na prestação de conta dos candidatos, na tentativa de reduzir o chamado caixa 2. "Hoje, quando se fala em reforma, está se tentando revogar esse dispositivo da lei (cláusula de barreira). Reduzir a cláusula de barreira é permitir a federação de partidos, o que mantém o caos", avalia Miro Teixeira.