Título: CPIs convocam Daniel Dantas e Gushiken
Autor: Maria Lúcia Delgado e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2005, Especial, p. A12

Crise Quebra de sigilo dos fundos é ampliada e Toninho da Barcelona também será chamado a depor na CPI dos Bingos

A CPI Mista dos Correios deu continuidade à proposta de investigar fundos de pensão e aprovou, ontem, a transferência de sigilos bancários de mais sete entidades de previdência: Previ, Centrus, Real Grandeza, Serpros, Postalis, Portus e Eletros. Os parlamentares querem investigar dados referentes a investimentos feitos pelos fundos, nos últimos cinco anos, no BMG e Banco Rural. Os bancos fizeram empréstimos ao PT e ao empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, envolvido no esquema de caixa 2 do partido para quitar dívidas de eleições. Por unanimidade e em votação simbólica, também foram aprovadas na CPI dos Correios as convocações do ex-ministro Luiz Gushiken, atual secretário de Comunicação e Gestão Estratégica, que deporá no dia 6 de setembro, véspera de feriado. O banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, prestará depoimento dia 14 de setembro. Onze fundos de pensão tiveram também o sigilo de seus investimentos nos bancos Rural e BMG quebrados pela CPI Mista do Mensalão, que funciona ao lado da CPI dos Correios. Seus integrantes confirmaram, para a próxima quarta-feira, o depoimento dos presidentes da Previ, Petros e Funcef. Além desses, tiveram quebra de sigilo aprovada na CPI do Mensalão mais oito fundos: Portus, Postalis, Serpros, Sistel, Eletros, Centrus, Geap e Real Grandeza. Deputados e senadores também aprovaram a convocação do mesmo Daniel Dantas, do banco Opportunity para depor à comissão. Só que nesta não há data definida para o banqueiro ser ouvido. Na sessão administrativa de ontem da CPI do Mensalão, o deputado Odair Cunha (PT-MG) trabalhou para evitar a convocação dos fundos. "Fugimos do foco de identificar a compra de votos. Não entendo porque investigá-los", disse. Além de Dantas, a CPI do Mensalão também aprovou a convocação de Gustavo Marin, presidente do Citigroup no Brasil. O ex-presidente do PT José Genoino e o presidente do PP, Pedro Corrêa, também serão chamados a depor. A comissão também decidiu ouvir o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona. O mesmo doleiro foi também objeto das deliberações de ontem da CPI dos Correios. Foi aprovada a convocação do doleiro que acusa dirigentes do PT de enviar ilegalmente recursos para o exterior. A data do depoimento precisa ser negociada com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. A oposição tentará realizar a oitiva já na próxima semana. O fundamento da CPI dos Correios para investigar os fundos são denúncias de que operações ilegais envolvendo títulos públicos entre as entidades e os dois bancos podem ter abastecido o caixa 2 do PT. Uma das funções da CPI, alegam os parlamentares, é investigar a origem dos recursos nas contas do empresário Marcos Valério. Por meio de nota, a Fundação Banco Central de Previdência Privada (Centrus) informou que não mantém nenhuma aplicação em títulos dos bancos BMG e Rural. Aplicações em CDB no Rural, contratadas em 1999, foram liqüidadas em 2000. No BMG, "aplicações contratadas em 1998 (Fundo de Investimento Financeiro - FIF) foram liquidadas em junho de 2003". A votação da quebra de sigilos dos fundos já estava no script da CPI dos Correios, ontem, mas as convocações de Gushiken, Daniel Dantas e Toninho da Barcelona foram aceleradas e forçadas devido à disputa com as outras comissões - do Mensalão e dos Bingos. Dantas também foi convocado pela CPI do Mensalão; Toninho da Barcelona será chamado para depoimento na CPI dos Bingos. O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) quer a convocação extraordinária da CPI dos Correios para ouvir o doleiro já na quinta-feira. "Isso requer um acordo. Vou conversar com os presidentes das outras CPIs e com o secretário de Segurança Pública de São Paulo para acertarmos a data deste depoimento", disse Delcídio Amaral.