Título: Sufocada, Varig pode sofrer arresto
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2005, Empresas &, p. B3

Aviação Venda da VarigLog seria única saída para falta de caixa, mas credores e Justiça têm que aprová-la

A próxima semana promete ser crítica dentro do processo de recuperação judicial da Varig. Apesar da moratória legal que a protege desde junho, a companhia enfrente grave restrição de caixa e pode começar a sofrer as consequências disso em sua operação. Às 10 horas da manhã da próxima quarta-feira, dia 31, a Corte de Falências do distrito Sul de Nova York ouvirá a companhia para decidir se atende ou não o pedido de retomada de quatro dos onze aviões alugados a ela pela International Lease Finance Corporation (ILFC). Em sintonia com o pedido de recuperação feito pela Varig à Justiça brasileira, em junho, o juiz americano Robert Drain concedeu liminar impedindo arrestos de aviões alugados por empresas dos EUA, além de retomadas de aeronaves em geral em território americano. Mas estabeleceu como condição que a Varig honrasse o pagamento do aluguel dali em diante. Mas a Varig tem deixado de pagar vários dos contratos. Até agora, desde o início da recuperação judicial, já acumula aluguéis em atraso de US$ 20 milhões. E a cifra deve chegar a quase US$ 30 milhões até o fim do mês, com outros vencimentos. A ILFC argumenta ainda, na moção entregue à corte nova-iorquina, que a Varig tem quebrado o contrato ao não fazer a manutenção adequada dos aviões e ao "canibalizá-los", retirando peças para colocar em outras aeronaves. O principal argumento que os administradores da Varig e seus advogados pretendiam levar ao juiz era o contrato com o fundo americano MatlinPatterson, que acertou na segunda um acordo preliminar para comprar a subsidiária de transporte de carga VarigLog por US$ 38 milhões e descontar recebíveis de cartão até o limite de US$ 65 milhões. O problema é que o negócio ainda não foi aprovado pela Justiça brasileira, pré-condição para a sua concretização, e alguns credores da companhia aérea começam a exercer o direito de contestar a venda. Ontem, o sindicato dos funcionários se opôs formalmente à transação, o que pode impedi-la ou, no mínimo, atrasá-la. Inicialmente, a Varig esperava colocar os primeiros US$ 48 milhões na sua conta já na próxima semana. Mas parece que a companhia não terá nada de concreto para apresentar à Corte de Nova York na quarta-feira. "De fato, há risco de atraso no negócio com o fundo. O dinheiro pode não estar no caixa na quarta-feira, mas há a perspectiva de entrar", diz Daltro Borges, sócio do escritório Sérgio Bermudes, que representa a Varig na recuperação judicial. "Se não for feito algo rápido, pode ser o início de uma derrocada muito séria", afirma ele, completando que "o sindicato que não concorda com a venda da VarigLog é o mesmo que bate na porta para reclamar dos salários em atraso". O que os executivos da Varig e seus advogados argumentam é que a operação com o MatlinPatterson se apresenta como única solução concreta até agora à crise de liquidez que se estabeleceu na empresa. Só em salários em atraso são R$ 28 milhões. "A empresa está ciente de que o fluxo de caixa apresentado à Justiça no Brasil e nos Estados Unidos não foi cumprido. E apresentou a solução possível, depois de o UBS ter falado com oito bancos e a empresa ter procurado todos os credores", argumenta Borges. Quando a Varig pediu a recuperação, em 17 de junho, esperava obter um alívio financeiro, protegida pela moratória de 180 dias que a legislação autoriza. Mas uma sucessão de episódios com os quais a direção da empresa não contava provocou efeito inverso e agravou o seu problema de caixa. Os fornecedores nacionais e estrangeiros deixaram de vender a prazo e passaram a exigir pagamento à vista. Algumas instituições, como as administradoras de cartão de crédito, passaram a exigir garantias maiores para continuar operando com a companhia. Além disso, a Varig entrou em pé de guerra com a General Electric. Há mais de um ano, a divisão de financiamento de aviões da GE, a Gecas, havia renegociado créditos em atraso, dando desconto na dívida e alongando o pagamento por cinco anos. O pagamento seria feito com a receita de determinada linha internacional da Varig, depositada numa conta no JP Morgan no exterior. Pelo acordo, a GE poderia ficar com US$ 5 milhões mensalmente. Mas, desde o início da recuperação judicial, a GE não tem tido acesso aos recursos. Nem a Varig. Aqui no Brasil, a Varig ainda briga com a divisão de manutenção de motores da GE para liberar algumas turbinas. A aérea não tem dinheiro para pagar pela manutenção e a GE decidiu não ampliar sua exposição ao risco da companhia. A poucas semanas de se esgotar o prazo para que a Varig apresente a proposta de reestruturação à Justiça, em meados de setembro, há pouca coisa delineada, segundo fontes próximas. "Ainda não existe plano algum", queixa-se um credor.