Título: Vale projeta demanda aquecida até 2010
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2005, Empresas &, p. B7

Mineração Desempenhos das economias americana e chinesa devem garantir procura por minério de ferro

A Companhia Vale do Rio Doce não vê tão cedo uma desaceleração na demanda mundial por minério de ferro. Fábio Barbosa, diretor de finanças da companhia, considera que os fundamentos econômicos internacionais mostram ainda um ambiente de forte crescimento mundial, principalmente na Ásia, capitaneada pela China. Num cenário até 2010, o executivo analisa que não está vendo indicativo que conduza a um quadro de recessão, mesmo levando em conta a alta do petróleo, que a seu ver já foi precificada pela política de juros do FED (Banco Central americano) e pela China. Na sua avaliação, o FED não está surpreso pelo movimento do petróleo e está apertando de forma gradativa, serena e suave a política monetária. A China, segundo ele, toleraria inflação mais alta, mas não a redução do ritmo de crescimento que comprometesse a estrutura social. Durante palestra para investidores na Apimec, Barbosa contou que a Vale está trabalhando com uma procura de minério de ferro muito maior do que ela pode oferecer, o que tem levado a companhia a antecipar investimentos. "A expansão da nossa capacidade de produção de minério de ferro prossegue e está lastreada em contratos de longo prazo", disse o executivo. Este ano, Carajás deverá produzir 76 milhões de toneladas de minério de ferro. Para 2006 está programada uma produção de 85 milhões de toneladas. No cálculo da Vale, se a China dobrar seu consumo per capita anual de aço de 200 quilos para 400 quilos em 10 anos, precisará dobrar a produção de aço de 320 milhões (previsão para 2005) para 600 milhões, exigindo um bilhão de toneladas de minério de ferro. Nesse quadro de expansão, os indicadores de preço das matérias primas como ferro gusa, sucata e placas de aço voltaram a subir, como informou Barbosa. Ele acredita que possa haver uma reversão da tendência de queda no preço do aço em função do crescimento mundial. Além disso, o ajuste de produção feito pelas siderúrgicas européias não fez os preços voltarem para patamares anteriores. A placa hoje vale US$ 400 e há dois anos, valia US$ 200. Outro fator positivo no mercado de mineração e metais, mencionado por Barbosa, é o barateamento do frete, que reduz custos para as siderúrgicas e compensa a alta do minério de ferro. De acordo com ele, a queda do frete está levando compradores a pagarem pelo minério preços de 2004. Todo esse conjunto poderá desembocar numa nova alta do minério de ferro em 2006, conforme avaliam analistas. Andréa Weinberg, da Merrill Lynch trabalha com uma expectativa de aumento de 5%. Já Rodrigo Barros, do Unibanco, de 15%, e Gustavo Barbeito, do banco Prosper, entre 5% e 10%. Mas, Barbeito prefere raciocinar no curto prazo sobre a forte demanda do mercado pelo minério. Nos próximos dois anos, ele avalia que a produção de aço deva aumentar 60%. Mas não vê o aumento do gusa como um indicador antecedente de um novo aumento do aço, já que o mundo enfrenta um excesso de oferta de siderúrgicos. "O preço do aço caiu apesar da alta do minério. Acho que uma nova alta da placa e dos laminados vai depender da força do crescimento mundial acontecer em mercados que não na China. A China está importando 1% da sua produção de 300 milhões de toneladas/ano."