Título: Analistas prevêem redução da taxa em setembro
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2005, Finanças, p. C1

As taxas de juros básicas da economia brasileira vão começar a ser reduzidas pelo Banco Central em setembro, apesar da crise política. Essa é a avaliação de especialistas do mercado presentes ao 2º Congresso Internacional de Derivativos e Mercados Financeiros, em Campos de Jordão, interior de São Paulo. "A crise política é uma fonte de incerteza, mas você não pode tomar uma aspirina para melhorar uma gripe que você ainda não tem", afirmou Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de política monetária do Banco Central e hoje sócio-diretor da Mauá Investimentos. Segundo ele, a situação econômica internacional favorável está reduzindo o impacto econômico da "grave crise política" pela qual passa o país. Uma entrada de cerca de US$ 2 bilhões por mês de investimento direto externo e exportação ajudam a segurar o câmbio e a inflação, permitindo agora um afrouxamento da política monetária, segundo frisou. Para ele, é justamente o superávit em conta corrente de US$ 25 bilhões ao ano, aproximadamente, que faz toda a diferença em relação a 2002, quando o país tinha déficit de 22% do Produto Interno Bruto. "O Brasil está hoje reduzindo sua dívida externa, enquanto em 2002 nós tínhamos de passar o chapéu todo o ano", brincou. Segundo ele, a ata do Copom divulgada ontem deu diversas sinalizações de que a queda nos juros virá já na próxima reunião em setembro. "A meta de inflação já foi atingida com folga", afirma Eduardo Oliveira, presidente do UBS Wealth Management. Ele prevê inflação de 5% neste ano, na comparação com a meta de 5,1%, e acredita em um corte de 0,50 ponto percentual nos juros básicos Selic na reunião de setembro. Para Oliveira, a crise política vai trazer mais volatilidade ao mercado, mas os preços deverão retomar aos níveis pré-crise quando a situação se acalmar. Ele acredita que o dólar estará em R$ 2,30 no final de 2006, por exemplo. Segundo ele, a saída de estrangeiros de posições vendidas em câmbio se a crise piorar não preocupa. Figueiredo concorda. "Há o um fluxo positivo das exportações e do investimento externo direto que é incomparavelmente maior do que o fluxo do capital de curto prazo investindo nos juros", disse. Sérgio Werlang, diretor-executivo do Itaú, ex-diretor de pesquisa econômica e de política econômica do Banco Central, diz que não entendeu a razão pela qual o Copom não reduziu os juros já na sua reunião neste mês. Ele acredita que há espaço para um corte mais agressivo nas taxas neste momento, conforme afirmou em palestra. Para o estrategista-chefe da Goldman Sachs, Paulo Leme, a ata do Copom divulgada ontem indicou o contrário: a trajetória de redução dos juros será mais moderada do que a esperada, de 0,25 ponto percentual em setembro, pois o BC está vendo uma retomada do crescimento econômico maior do que o mercado consegue perceber. Ele concorda com Werlang, no entanto, na avaliação de que o BC já poderia ter reduzido os juros na semana passada e vê espaço para a redução de 0,50 ponto percentual ainda em setembro. "As exportações estão melhores do que o esperado e as projeções de inflação do mercado estão convergindo para a meta", disse. Leme, que também fez palestra ontem no congresso de derivativos, considera que os juros básicos Selic estarão entre 17,75% ou 18% ao ano no final deste ano, com a maior probabilidade de ficar nos 18% ao ano. Hoje, são de 19,75% ao ano. Ele considera que a queda cautelosa dos juros não vai afastar o investidor externo das aplicações em renda fixa do país, pois esse investidor já está apostando nessa redução. Oliveira concorda: "Não é que os juros vão cair muito de uma hora para outra. Haverá moderação", afirmou o presidente do UBS Welth Management. Segundo Paulo Leme, o mais importante para não assustar o investidor externo é o Tesouro Nacional tomar cuidado para não vender mais títulos do que o mercado pode absorver, principalmente papéis de mais longo prazo, de forma a não impactar as taxas de juros projetadas para 2007 e 2008 e não provocar perdas nas posições dos estrangeiros marcadas a mercado, pois isso afasta esse investidor em um momento de baixa liquidez no mercado internacional por causa das férias do hemisfério norte e pode impactar no câmbio. O economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central e professor-pesquisador da FGV, que também fez uma palestra no evento em Campos de Jordão, fez questão de frisar que a valorização do câmbio não está ligada apenas ao fluxo de capital externo investindo nos juros, mas a um "choque externo favorável", que está aumentando o preço das exportações brasileiras no exterior e também o seu volume.