Título: BC abre espaço para corte no juro
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 26/08/2005, Finanças, p. C1

Política Monetária Ata do Copom elimina frase que indicava Selic elevada por um período longo

ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, não inclui a frase - repetida várias vezes nos meses anteriores - que indicava que os juros básicos permaneceriam no elevado patamar atual, de 19,75% ao ano, por "um período suficientemente longo de tempo". Dessa forma, a autoridade monetária deixa de se comprometer previamente sobre seus passos futuros, abrindo espaço para um possível corte na taxa Selic em setembro. Pela primeira vez, o Copom explica por que vem mantendo os juros estáveis desde maio, a despeito de toda a melhora ocorrida no quadro inflacionário. O objetivo, sinaliza a ata, seria chegar o mais próximo possível do centro da meta de 2005, fixada em 5,1%. "A persistência de uma postura mais ativa na política monetária (...) poderá fazer com que a inflação se aproxime de forma mais consistente dos objetivos estabelecidos para horizontes mais curtos", diz o documento. "Como conseqüência desse processo, as expectativas para horizontes mais longos poderão ser afetadas de forma mais duradoura." No mesmo trecho, a autoridade monetária justifica sua postura cautelosa com dois fatores de risco que poderiam impedir que a melhora na inflação corrente se traduza num quadro inflacionário mais benigno em horizontes mais longos. Um deles é o "contexto em que os indicadores de atividade tem se mostrado repetidos sinais de vigor". Outra ponderação feita pelo BC é que "uma parcela dos resultados favoráveis para a inflação de curto prazo responde a fatores pontuais, que tendem a apresentar alguma reversão no futuro". Apesar dessas ressalvas, o quadro descrito pelo BC é, de forma geral, positivo, o que levou analistas econômicos a apostar em um corte de juros já em setembro. "Continua a se configurando, de maneira cada vez mais definida, um cenário benigno para a evolução da inflação", diz a ata. Melhoraram, em primeiro lugar, as projeções de inflação feitas pelo BC com seus modelos. A ata não revela os percentuais, mas diz que a projeção para 2005, que no relatório de junho foi estimada em 5,8%, caiu em agosto, pelo segundo mês seguido. Nos períodos de 12 meses que se encerram em março, junho e setembro, de 2006, as projeções do BC se encontram abaixo da trajetória de cumprimento da meta do ano-calendário 2006. A ata registra também que houve melhora significativa na expectativa de inflação do mercado para 2005 - que, entre as duas mais recentes reuniões do Copom, recuou de 5,66% para 5,4% (após a reunião de agosto, caiu ainda mais, para 5,34%). Embora ressalte que as expectativas para 2006 tiveram "recuo simbólico" - de 5% para 4,98%, e, mais recentemente, para 4,96% -, o BC vê perspectivas alentadoras daqui por diante. Cita, em particular, a queda da inflação média projetada e a redução do desvio padrão dos prognósticos, dois sinais estatísticos que revelam maior otimismo dos agentes privados quanto à expectativa de inflação de 2006. O BC cita, porém, dois fatores de risco que podem, num desfecho adverso, frustrar o cenário básico benigno traçado para a inflação. Um deles é a alta das cotações internacionais do petróleo. "A principal preocupação no que diz respeito ao ambiente internacional é a forte alta dos preços do petróleo", registra a ata. O BC manteve sua expectativa de aumento zero no preço dos combustíveis em 2005, mas reconhece que se elevaram os riscos de um aumento nos preços. Outro fator de risco abordado na ata é o aumento da utilização da capacidade instalada, que chegou a 82,8% em junho, de acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Pela primeira vez no ano, a utilização da capacidade cresce por dois meses seguidos", diz o documento do Copom. "Dessa forma, após um intervalo de acomodação em patamares historicamente elevados de utilização de capacidade, pode-se vislumbrar para o segundo semestre um cenário em que a capacidade ociosa se estreite ainda mais." Mais adiante, o BC registra que os indicadores de investimentos apresentam um ritmo intenso de expansão, o que poderá ampliar a oferta agregada na economia. "Embora esteja se consolidando as evidências de recuperação no ritmo de investimento, o desempenho da oferta agregada nos próximos meses continuará sendo um foco importante de preocupação em relação à dinâmica prospectiva da inflação."