Título: Aécio costura alianças visando 2006
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2005, Política, p. A4

Crise Agenda recente do governador de Minas Gerais incluiu duas dezenas de líderes de vários partidos

Desde o início da crise política, pelo menos duas dezenas de lideranças políticas de diferentes partidos - PDT, PSB, PMDB, PFL e PSDB - já passaram pelo gabinete do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB). Reconhecido pelo bom diálogo com praticamente todas as legendas, da oposição e também da base aliada, o ex-presidente da Câmara dos Deputados diz estar empenhado na construção de uma agenda positiva para o país, que não pode sucumbir às denúncias. Por trás desta longa lista de encontros políticos, entretanto, está também a costura de uma grande aliança para 2006. Talvez em torno do próprio Aécio Neves. O presidente do PDT, Carlos Lupi, que esteve em Belo Horizonte há duas semanas, não fez mistério sobre sua boa vontade para apoiar o governador num projeto eleitoral no próximo ano. Ao sair do gabinete, deu entrevistas enaltecendo sua proximidade com o mineiro, desde os tempos do Congresso. Antes de Lupi, já haviam marcado presença no Palácio da Liberdade o presidente do PSB, Eduardo Campos, o presidente do PMDB, Michel Temer, e o presidente do PFL, Jorge Bonhausen. A lista dos encontros, entre o final de junho e o fim da semana passada, incluiu o senador Renan Calheiros (PMDB), o ministro Ciro Gomes e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PPS). A agenda registrou ainda uma relação de governadores como Germano Rigotto (RS-PMDB), Marcelo Miranda (TO-PMDB), Simão Jatene (PA-PSDB) e Geraldo Alckmin (SP-PSDB). Fontes próximas ao governador confirmam que ele já recebeu pelo menos três convites para deixar o PSDB e candidatar-se em 2006 por outra legenda. Os convites teriam partido do PDT, do PSB e de um grupo do PMDB. Aécio Neves não confirma o assédio e desconversa sobre o assunto. "A minha atividade antes do governo do Estado, minha atividade parlamentar, me fez construir uma relação próxima com as lideranças dos outros partidos", disse ele ao Valor. "É natural que na hora que se começa a pensar o futuro, eles me procurem para conversar." Aos interlocutores mais íntimos, Aécio Neves tem deixado claro que pretende fazer da habilidade para o diálogo com outras forças políticas sua principal plataforma na disputa interna do partido. Publicamente, no entanto, ele nunca assumiu sua pré-candidatura. "Não coloco isso como um projeto pessoal", é o que costumar responder quando questionado sobre o assunto. Em diferentes ocasiões, respondendo perguntas de jornalistas, o neto de Tancredo Neves desdenhou as pesquisas que mostram o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), crescendo na intenção de voto e até vencendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva num eventual segundo turno. O governador de Minas argumenta que, para um pré-candidato, mais importante que o número isolado de uma pesquisa é a capacidade de construir alianças e o potencial de crescimento. Se depender da sua agenda de encontros políticos, Aécio Neves terá boas chances de consolidar sua imagem como a do, como gosta de dizer, "construtor de pontes". As lideranças políticas com os quais tem conversado poderão ser fundamentais num eventual segundo turno contra o PT em 2006. E algumas delas, acredita o governador, poderão ser até companheiras de primeira hora. O ministro Ciro Gomes, por exemplo, não é carta fora do baralho. Nos cálculos do tucano mineiro, é melhor costurar aliança com Ciro do que deixar que ele se torne uma alternativa presidencial a oposição. Com tucanos como Aécio Neves, o ministro tem bom diálogo, o que facilita as negociações. Mas mesmo não ocorre com outros nomes do seu ex-partido, como José Serra. Em suas análises, o governador mineiro tem dito que seu primeiro desafio será a eleição do diretório nacional do PSDB, em novembro. Será preciso disputar espaço com os paulistas e fazer prevalecer a tese da importância de uma grande aliança nacional para 2006. "O fato concreto é que o PSDB passa a ser uma opção hoje extremamente viável aos olhos dos agentes políticos", comentou. "Isso permite que nós pensemos em construir uma aliança até mais ampla e isso é crucial para a definição de candidaturas." Um pouco de tudo o que tem conversado com os diferentes partidos foi pauta do jantar que teve na quinta-feira passada, em São Paulo, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "O presidente Fernando Henrique tem absolutamente a mesma visão, o mesmo pensamento, não vamos nos iludir e saborear excessivamente as pesquisas eleitorais feitas nesse instante", comentou ele, na volta. "Não basta apenas sermos a antítese do PT, é preciso que esse ambiente desanuvie para que a gente tenha um pouco mais de clareza para a gente saber o que vai acontecer no ano que vem." Segundo Aécio, FHC e ele concordam que a hora agora é de definir um projeto de desenvolvimento para o país e mostrar à população o que, do ponto de vista econômico-fiscal, o PSDB faria diferente do que está sendo feito hoje. "O nome não tem apenas que ter viabilidade eleitoral, ele tem que construir em torno de si uma aliança que dê condições e tranqüilidade de sustentação do nosso projeto" A favor de Aécio Neves, no seu trabalho de bastidores para se firmar como o nome tucano capaz de construir a grande aliança em 2006, pesa também sua habilidade no relacionamento com os próprios petistas. O presidente Lula o recebeu em Brasília, no final de junho. O governador foi levado ao gabinete presidencial pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Há duas semanas, foi o presidente quem retomou o assunto, num telefonema para o gabinete do governador de Minas.