Título: "Lula é o melhor candidato do partido em qualquer cenário"
Autor: César Felício e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2005, Política, p. A6

Que argumentos o sr.daria para votar no PT? Pomar: Foi lamentável aquela declaração do Tarso Genro. Ele poderia ter lembrado que alguns casos não fazem do PT um partido corrupto, que a militância petista tem lado, que somos a expressão da esquerda brasileira, que os partidos de direita são hipócritas, que a escolha em 2006 vai ser entre nós e a direita. Lembrar das nossas politicas públicas nos governos, poderia inclusive ter falado do governo federal. É impressionante. Se um candidato a presidente do PT não tem argumentos para defender o partido, ele não pode ser presidente do partido. Valor: O sr. acha que a candidatura vai vingar? Pomar Fui contra a indicação dele para ser presidente interino e para ser candidato a presidente. À medida em que ele vira candidato, assume como discurso não reconhecer que a política do Campo Majoritário está errada, mas o de fulanizar a crítica, como se não houvesse Campo Majoritário, mas apenas o Zé Dirceu e seu grupo. Dizer que o Dirceu é uma coisa e o Campo Majoritário outra e dizer que tirando ele muda o Campo é motivo de risada . O Campo deveria assumir coletivamente a responsabilidade política pelo que aconteceu. Não pelos desvios éticos, mas pela política. O Tarso não faz autocrítica da política, ele critica para a frente. Diz que a política econômica e de alianças precisa mudar, mas não para trás. Aliás, não tem até hoje no site do PT uma plataforma da candidatura dele. É uma campanha esquizofrênica. Ele é candidato do Campo Majoritário, mas a ênfase dele é criticar o que o Campo Majoritário faz ou deixa de fazer. Uma hora isso ia ter um colapso, que é o que está aí. Valor: O PT corre o risco de acabar? Pomar Acho que não. Se o PT não existisse, teria de ser inventado. O PT representa a síntese daquilo que a esquerda brasileira acumulou durante anos. Então, não há como imaginar que um partido desse tipo vá naufragar. O que pode acontecer, caso não haja uma alteração de rumos, é a progressiva neutralização dele como força política protagonista na sociedade. Continuaria existindo como uma força importante da política brasileira, mas com papel semelhante ao que o PMDB ocupa, que é o maior partido brasileiro, continua tendo um peso enorme, mas não é protagonista. Valor: É grande a chance disso ocorrer? Pomar Não acredito. Vejo uma energia muito grande dentro do PT e uma disposição de fazer uma mudança muito grande. A prova disso está na dificuldade do Campo Majoritário em ter um candidato. O Campo sabe que, para ganhar a eleição interna do PT, não pode se apresentar com sua própria cara, mas com uma face que critica o próprio Campo. Ora, se é assim, não é melhor o original? Uma candidatura que de fato critique o Campo e com ele não tenha vínculo? Por que uma cópia? O Berzoini eu não sei se será candidato, mas, se for, o que falo do Tarso se aplica a ele. Ambos criticam a política econômica e o que foi feito nos últimos anos. É bom? É um reconhecimento, mas não pode parar onde eles param: na responsabilização de um grupo dentro do Campo Majoritário. Concordo que o Campo como um todo não deve ser responsabilizado, mas ele é responsável pelas atitudes politicamente incorretas que adotou. E, se eu reconheço que um grupo adotou atitudes que levaram o partido para essa situação, vamos ser honestos. Essa responsabilidade tem que ser estendida à politica. Não aceito essa tese do Tarso de que o problema é ético e vamos cortar aqueles que se comportaram mal. O problema é politico. Vamos alterar a política que deu errado e dentro da qual vicejaram problemas éticos Valor: O sr. apóia Lula, mas critica a política de alianças e econômica do governo. Se elas não forem alteradas, haveria uma alternativa a Lula ou a possibilidade de mudança de partido? Pomar: Nós não vamos sair do PT, aconteça o que acontecer. Defendo o governo, fazemos parte do governo e defendo que o Lula seja candidato á reeleição. O Lula é o melhor candidato no ano que vem em qualquer cenário. Naquele em que ele altera a sua politica e naquele em que ele não altera, naquele em que o governo está bem e no que não está bem. Valor: Por que? Pomar: Porque ele é o que tem mais chances de vitória. É ele quem melhor pode defender o que o governo fez, deixou de fazer e que em qualquer cenário pode ter o melhor resultado eleitoral. Achamos que existe uma armadilha retórica criada pelo Campo Majoritário que tem que ser desarmada: eu só posso propor aquilo que o Lula for aceitar. Isso anula o partido e impede o governo de ter uma pressão à esquerda. Ficamos nessa situação lamentável em que o partido fica reduzido a uma espécie de ministério sem pasta. Propomos outra abordagem: o partido tem que dizer ao governo aquilo que acha que tem que ser feito. Ponto. Independentemente do que o governo vai fazer ou não. Valor: Você acredita em golpe das elites? Pomar: Essa questão foi posta de maneira tal que gerou da parte da própria direita uma atitude de ridicularizar quem fala em golpe das elites . Não acho que haja conspiração no sentido tradicional da palavra porque é tudo feito à luz do dia. Uma operação que visa reconquistar o governo federal e destruir o PT. Ninguém está escondendo isso. Se eles conseguirem convencer a população brasileira disso, o efeito será que a esquerda brasileira deixará de ser alternativa de programa, de governo e de poder. Não é só o PT que sofre, toda a esquerda será atingida. Nesse sentido, há uma conspiração. Não é um fenômeno inocente. Há uma articulação entre os partidos conservadores, setores importantes dos meios de comunicação, setores conservadores da classe média, partidos de ultra esquerda e setores do grande capital, feita à luz do dia. Sem nenhuma ofensa ao veículo que você trabalha, o papel que as Forças Armadas cumpriram no Brasil até o final dos anos 70 é hoje cumprido pelos meios de comunicação, na preservação dos interesses da burguesia. (CJ)