Título: Esquerda teme 'pemedebização' do PT
Autor: César Felício e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2005, Política, p. A6

Crise Valter Pomar e Plinio de Arruda Sampaio dizem que partido pode perder papel de protagonista

Principais candidatos da esquerda do PT à presidência do partido, o ex-deputado Plinio de Arruda Sampaio, da Ação Popular Socialista, e o dirigente Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, discordam em quase tudo, mas convergem em relação ao risco de pemedebização do PT. "O partido corre o risco de virar um PMDB, que é o maior partido brasileiro, continua tendo um peso enorme, mas não é protagonista", diz Pomar. "Se a velha direção do Campo Majoritário prevalecer, podemos ir pelo caminho pemedebista, que tem apenas figuras isoladas comprometidas com a transformação e a ética", diz Plínio. A tendência de Valter Pomar está presente no governo federal. Tem o apoio do presidente da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), Júlio Quadros, o secretário especial de Aqüicultura e Pesca, José Fritsch, o presidente da Eletrosul, Milton Mendes, além de diversos prefeitos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Pomar, tem 38 anos e é filho de um dirigente do PC do B que morreu assassinado em 1976 na chamada "Chacina da Lapa", a última ação violenta do regime militar contra uma organização clandestina. Foi secretário municipal de Cultura, Esportes e Turismo em Campinas, na gestão de Izalene Tiene, entre 2001 e 2004. Plinio de Arruda Sampaio está ideologicamente à esquerda de Pomar e do outro forte candidato radical, o deputado estadual gaúcho Raul Pont, da Democracia Socialista. Paradoxalmente, recebeu apoio de dissidentes do Campo Majoritário. Excluído da chapa ao assinar a CPI dos Correios, o senador Eduardo Suplicy (SP) declarou apoio a Plínio, sem se envolver em sua campanha. Também o apóia o senador Cristovam Buarque (DF) , que ameaçou deixar o partido , o empresário Oded Grajew e o jornalista Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, amigos de Lula que se distanciaram do presidente e abandonaram sua assessoria. Aos 75 anos, Plínio Sampaio começou na política distante da esquerda, militante nos anos 50 no Partido Democrata Cristão, formado por figuras como Juarez Távora, Ney Braga e Carvalho Pinto, que apoiariam o regime militar. Elegeu-se deputado constituinte em 1986 com uma bandeira dupla: a reforma agrária e a defesa da doutrina da Igreja Católica. No governo Lula, colaborou informalmente na elaboração do Plano Nacional de Reforma Agrária.