Título: Sem dados bancários, Delcídio ameça prorrogar CPI
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2005, Política, p. A8

Pela primeira vez, o presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), admitiu que a investigação da comissão mista pode ser prorrogada para além de novembro, prazo inicialmente previsto para o encerramento dos trabalhos. Delcídio culpa a má-vontade dos bancos para atender os pedidos da CPI por eventual atraso, algo que o governo tenta evitar a todo custo. Na semana passada, Delcídio teve o que classificou de "conversa dura" com a direção do Banco do Brasil, na qual acusou o BB de "procrastinar" deliberadamente o envio das informações solicitadas ou de mandar dados incompletos. Delcídio pretende conversar com as direções do Banco Rural, com o mesmo objetivo, e do BMG ao longo desta semana. Segundo Delcídio, o atraso e as informações incompletas têm impedido a CPI de alimentar corretamente os sistemas do Prodasen, o serviço de processamento de dados do Senado, de modo a identificar a origem dos recursos utilizados pelo esquema do empresário Marcos Valério de Souza. "Sem esses dados, não temos como dar a resposta rápida que a sociedade está exigindo". Delcídio conta que enfrentou um problema parecido com a direção dos Correios, que inclusive teria enviado informações falsas à CPI. O problema só teria acabado depois que ele ameaçou a diretoria dos Correios de fazer "buscas e apreensões" na empresa. No que se refere aos aos bancos, a intenção do senador petista é de fazer uma denúncia pública. "Eles estão empurrando com a barriga. Como vou caminhar no tempo sem os dados"? Nas informações enviadas pelos bancos, por exemplo, há saques sem identificação, o que contraria as normas do Banco Central. Na sexta-feira, Delcídio tocou no assunto em uma reunião que manteve com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O ministro também está preocupado com a repercussão sobre o mercado com os depoimentos de dirigentes bancários e de fundos de pensão, a partir desta semana. "Nesta semana vou começar a bater: vocês estão nos expondo, procrastinando, impedindo que tenhamos as informações necessárias ou enviando informações incompletas, como saques sem identificação", ameaçou o presidente da CPI dos Correios, em conversa com o Valor. Se os bancos não apressarem o envio de informações completas, Delcídio acredita que possivelmente será necessário ampliar o prazo da CPI. O Palácio do Planalto, na realidade, se pudesse abreviaria a investigação, para tentar restabelecer algum clima de normalidade no Congresso, enquanto a oposição manobra no sentido de levar os trabalhos pelo menos até fevereiro. A competição entre as CPIs também contribuiu para o prolongamento das investigações, com mais de uma comissão interrogando o mesmo depoente - nesta semana, o doleiro Toninho da Barcelona e o banqueiro Daniel Dantas foram convocados por CPIs distintas. Na próxima terça-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve se reunir com os presidentes das três CPIs em atividade. A reunião, pedida por Delcídio, tem como objetivo organizar as investigações das CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos. Se depender de Delcídio, a CPI dos Correios passará a tratar especificamente dos contratos da empresa e da origem dos recursos do esquema Marcos Valério, enquanto a do Mensalão "dos fins" - o pagamento a deputados. "Quando há conflito de competências, só a autoridade superior pode decidir. Renan tem de ter um papel de magistrado nesse caso", diz o relator da CPI dos Correios, Osmar (PMDB-PR). Apesar de reclamar que os bancos não enviaram até agora as informações necessárias para a CPI, Delcídio assegura que o cruzamento dos dados disponíveis indica claramente que a tese dos empréstimos bancários ao PT "não se sustenta". O senador por Mato Grosso Sul não quis adiantar números, mas disse que, "em função da movimentação verificada, é certo que há dinheiro com alguma origem diferente". Segundo Delcídio, "a conta não fecha".