Título: Fundos do Opportunity podem perder recursos
Autor: Angelo Pavini e Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2004, Empresa, p. B4

Administradora conta com ativos de mais de R$ 6 bilhões Na visão de alguns gestores do mercado, o novo capítulo na polêmica novela sobre os negócios de Daniel Dantas afeta a Opportunity Gestora de Recursos. Eles acreditam que pode haver um aumento de resgates dos fundos de investimentos da asset, especialmente nos fundos off-shore onde cogita-se que uma boa fatia de recursos seja de brasileiros, sem origem declarada. Alguns chegam a sugerir que a melhor saída seria separar a empresa do Opportunity e criar uma asset independente, sob a batuta de Dório Ferman, que desde 1986 comanda a gestão dos fundos de ações da empresa é e reconhecido por sua competência. Os fundos da família Lógica estão entre os mais velhos do mercado e possuem um histórico consistente de retorno. Respeitada no mercado como uma das melhores casas de administração, com mais de R$ 6 bilhões em ativos, a Opportunity Gestora registrou em julho, quando as primeiras denúncias envolvendo a Kroll vieram a público, um saque de R$ 101 milhões nos fundos que informam seus números ao mercado no Brasil. Boa parte desse valor foi o resgate de um banco estrangeiro. A decisão teve por base motivos técnicos, mas, informalmente, executivos reconhecem que as denúncias contra o banco também pesaram. Entre dois gestores com a mesma performance, o banco acaba escolhendo aquele que não tenha problemas desse tipo, diz um executivo. A diretora comercial da Opportunity, Valéria Rodrigues, admite o impacto das denúncias. "Realmente, não vou dizer que todo esse problema de imagem não afete alguns clientes", afirma. "Mas talvez afetem mais o grande banco estrangeiro, que tem menor autonomia de decisão aqui", completa. Segundo Valéria, apesar dos vários problemas envolvendo o banco - incluindo o escândalo da Kroll em julho, a condenação recente na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por oferecer fundos off-shore para brasileiros e agora a Polícia Federal -, os fundos do banco ainda registram uma captação líquida de R$ 27 milhões no semestre. A explicação, diz, é que a base de 1.500 clientes é em sua maioria antiga, já acompanha essas questões há muito tempo e entende a questão da segregação entre o banco e a gestora. "É uma coisa ruim, mas administrável, enfrentamos esses problemas desde 2000, quando começaram as brigas com a Telecom Itália". Segundo Valéria, ontem, os resgates superaram as aplicações em R$ 3 milhões, um valor pequeno em relação aos R$ 6 bilhões de recursos administrados. A maior parte dos saques, diz, foi de clientes novos, que decidiram resgatar apesar das explicações do departamento comercial da empresa. Anteontem, afirma a executiva, o patrimônio dos fundos ficou estável. Sobre a idéia de separar a empresa, Valéria diz que não há planos para isso no momento. "Enquanto temos a confiança dos investidores e nosso patrimônio continua crescendo, não faz sentido pensar nisso", diz. Ela explica também que não há problemas para os fundos off-shore e explica que quem aplica nesses fundos são bancos internacionais. Ou seja, se há brasileiros aplicando nesses fundos, a aplicação está em nome do banco, e não do investidor. "Não temos clientes que investem diretamente", diz.