Título: BC acena com alta mais forte no juro
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2004, Finanças, p. C1

Política monetária Taxa pode subir além do meio ponto dependendo do preço do petróleo A ata da reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central acena, ainda que de forma suave, com a possibilidade de intensificar mais um pouco o ritmo de aperto na política monetária, dependendo da evolução dos preços do petróleo e das expectativas inflacionárias. Na reunião realizada na semana passada, o comitê elevou a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual (de 16,25% para 16,75% ao ano), num movimento já mais intenso do que a alta de 0,25 ponto percentual decidida um mês antes. Na ata desse encontro, divulgada ontem, a autoridade monetária afirma que ainda considera possível fazer a inflação convergir para as metas se mantiver os atuais ritmo e intensidade de aperto na taxa de juros. Mas o comitê "ressalta que o quadro atual tem dois agravantes em relação ao avaliado na reunião de setembro" - e sinaliza que, dependendo de sua evolução, poderá ser mais duro do que o previsto. Um desses fatores é a alta das cotações de petróleo, que até agora vinha sendo entendida pelo BC como simples fator de risco. A abordagem até aqui tem sido de uma espécie de pensamento positivo - ou seja, as cotações estão mais altas, mas o Copom prefere acreditar num recuo. Porém, o recrudescimento da alta do petróleo, tanto "em termos de intensidade imediata quanto de duração", poderá levar o BC a considerar o fenômeno como fato consumado. O outro ponto preocupante é a deterioração adicional das expectativas inflacionárias. "É um sinal de que essas expectativas podem apresentar maior rigidez à queda do que se antevia", afirma a ata.

Se a alta do petróleo e das expectativas deixarem de ser um fator de risco para se tornarem um fato consumado, como cogitado na ata, os modelos de projeção do Copom passarão a prever uma inflação ainda mais distante da meta para 2005, ano que hoje é o principal alvo da política monetária. O atual ciclo de ajuste moderado nos juros é justamente para fazer a inflação projetada convergir para as metas de médio prazo. Quanto mais distante a inflação estiver da meta, maior deverá ser o aperto necessário nos juros. Em fins de setembro, em seu relatório de inflação, o Copom revelou que projeta uma inflação de 5,6% para o próximo ano, acima do objetivo de 5,1% que será perseguido pela política de juros. A ata não revela o quanto, exatamente, suas projeções haviam se alterado no decorrer de outubro, mas deixa claro que não houve grandes modificações. "As projeções permanecem bastante próximas aos valores constantes do relatório de inflação de setembro", afirma a ata. "A apreciação cambial (o dólar caiu de R$ 2,90 para R$ 2,85 no período) praticamente compensou a piora nas expectativas de inflação (subiram de 5,7% para 5,82%, referentes a 2005)." O Copom se mostra insatisfeito com toda a melhora nos índices de inflação registrada da reunião de setembro para cá. Um exemplo é o IPCA, que variou 0,33% em setembro, bem abaixo do 0,69% do mês anterior e da previsão de consenso dos analistas do mercado (0,5%). "Apesar do comportamento favorável da inflação recente, é importante ressaltar o caráter transitório de grande parte das influências positivas observadas no período", diz a ata, referindo-se ao recuo de 4,4% nos preços de alimentos "in natura". A melhora nos núcleos de inflação é outro dado positivo que o Copom vê com reservas. O núcleo por exclusão, que não inclui alimentos no domicílio e preços administrados, recuou de 0,56% para 0,41% entre agosto e setembro, percentual anualizado de 5,03%. "Os núcleos de inflação não estão inteiramente livres de ruídos, de modo que variações pontuais não devem ser precipitadamente interpretadas como mudança na tendência da inflação", diz a ata. "O comportamento do conjunto dos núcleos do IPCA continua ao longo dos últimos meses indicando uma tendência incompatível com a trajetória de metas." Outro dado econômico que registrou melhora significativa foi a variação dos preços industriais no atacado, que passaram de 1,98% para 1,13% entre agosto e setembro. Mais uma vez, o Copom destaca aspectos negativos. Um deles é o fato de, apesar da queda, o índice permanecer alto em termos anualizados. O outro é a inflação acumulada no índice ter sido relativamente elevada (4,8% no trimestre encerrado em setembro, excluindo combustíveis), despertando receios de repasses aos preços do varejo. Tal fato seria ainda mais provável "diante do aquecimento sazonal da demanda no final do ano". A exemplo do que fez em documentos oficiais anteriores, o Copom registra preocupação com o crescimento da demanda acima do que a economia pode comportar. Do ponto de vista da demanda, o Copom espera algum arrefecimento, pois os impulsos da política monetária mais relaxada desde meados de 2003 estariam dando sinais de esgotamento. "No entanto, embora algum arrefecimento espontâneo possa estar a caminho, os dados disponíveis não sugerem que seja intenso o bastante para preservar a compatibilidade entre a trajetória de metas de inflação e a velocidade de preenchimento da capacidade ociosa da economia." Sob a ótica da oferta, o documento aponta o rápido preenchimento da capacidade produtiva. A ata registra o crescimento da produção industrial em agosto (1,1%, dessazonalizado) mais forte do que o esperado tanto pelo mercado (que antevia contração) quanto pelo próprio BC (que esperava expansão menos intensa). Para setembro, o BC espera queda na produção. Mas a ata relativiza os dados isolados mensais, afirmando que eles não são bom termômetro de tendência da produção industrial. Mais importante, argumenta, é a seqüência de resultados.