Título: Rio perde espaço como pólo turístico
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Brasil, p. A4

Serviços Estudo registra queda no total de visitantes e na média diária de gastos por viajante estrangeiro

O Rio de Janeiro vem perdendo importância relativa como pólo de atração de turistas estrangeiros no país ao longo da última década do século passado e início do século XXI, embora permaneça como principal centro turístico do país e, proporcionalmente, como principal gerador de empregos no setor. Em 1990, de cada cem turistas estrangeiros que passavam pelo Brasil, 51 visitavam a cidade do Rio de Janeiro. Em 2003, essa parcela caiu para 37 turistas. De 1994 a 2003, enquanto o gasto médio diário por turista estrangeiro no Brasil passou de US$ 60,53 para US$ 87,99 - aumento de 45,37% -, no Rio, os gastos passaram de US$ 103,77 para US$ 96,98, com queda de 6,54%. Os dados constam de trabalho do economista carioca Mauro Osório, sob encomenda do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, intitulado "Turismo: uma proposta para o Rio". Osório é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e acaba de lançar o livro "Rio Nacional, Rio Local - Mitos e Visões da Crise Carioca e Fluminense". O economista utilizou dados da Embratur, do IBGE, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Ministério do Trabalho e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) para concluir que o Rio está com um desempenho muito abaixo das suas potencialidades turísticas. Ele mostra que a perda de dinamismo abrange outros ramos da atividade econômica, como a indústria, e relaciona isso com o processo de formação político-institucional do Estado e do município. "Podemos deduzir que o Estado do Rio e principalmente a cidade têm apresentado um potencial abaixo do que poderia ser a sua realidade", escreve, acrescentando que ambos "vêm apresentando nos últimos dez anos um pífio desempenho no quadro federativo brasileiro, ao menos no que se refere aos dados relativos ao emprego nas atividades turísticas". Em relação à queda dos gastos dos turistas, Osorio levanta a hipótese de que a redução pode estar relacionada com a preponderância crescente de turistas mais jovens ou de baixa renda, segmentos menos preocupados com os problemas de segurança no Estado. O levantamento mostra que enquanto no Brasil o total de empregos formais na atividade turística cresceu 98,63%, de 1994 a 2003, no Rio o crescimento foi de apenas 57,19%, o segundo pior desempenho entre os Estados, melhor apenas que o do Paraná (57,04%). Os números são referentes à atividade turística no sentido abrangente dado pela Embratur - engloba atividades de alojamento, alimentação, agências de viagem, atividades recreativas, aluguel de automóveis, transporte rodoviário e transporte aéreo. Em relação às atividades de alojamento (hotéis) e de agências de viagem, as mais identificadas com o turismo, o estudo também mostra números desvantajosos para o Rio. No de alojamento, o trabalho revela que o emprego formal no Rio cresceu 9,78%, de 1994 a 2003, enquanto no Brasil o aumento foi de 36,68%. Nas agências de viagens o quadro é pior: enquanto o emprego formal cresceu 33,24% no país, no Rio houve queda de 15,45%, único resultado negativo entre todos os Estados. O trabalho revela que apesar dos revezes, o Rio segue como o Estado que proporcionalmente mais emprega no setor turístico (em 2003), com 6,87% do total de empregados formais, ante 4,73% no Brasil. Considerando emprego formal e informal, o turismo responde, segundo o estudo, por cerca de 10,5% da ocupação no Rio, contra somente 6,6% no Brasil. Em números absolutos, o Rio tinha 202.462 empregos em turismo, equivalentes a 62% do total de empregos formais no setor industrial, e perdia no país apenas para São Paulo (434.792 empregos). Para Alexandre Sampaio, presidente do sindicato que encomendou o estudo, apesar dos números ruins a principal mensagem deixada pelo trabalho é que há uma "tremenda potencialidade" para o desenvolvimento do turismo no Rio. O trabalho mostra, por exemplo, com base em dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que o turismo representa de 3% a 4% do PIB do Rio, contra 7,7% na Argentina e 3,8% no Chile, e conclui que, sendo o Rio o principal pólo turístico do país, o número é pequeno. Sampaio disse que o estudo é apenas o primeiro, e que o sindicato, junto com outras entidades, está trabalhando para atrair capitais externos para investir no turismo no Rio. Com esse objetivo, deverá ser apresentado no próximo Salão Imobiliário de Lisboa o projeto de redinamização da área do porto do Rio. Procurado, o secretário de Turismo do Estado, Sérgio Ricardo Martins Almeida, não quis falar, argumentando que ainda não conhecia o trabalho de Osorio.