Título: Costa Neto confirma caixa 2 na campanha
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 02/09/2005, Política, p. A8

Crise Presidente do PL contradiz Delúbio e Valério em relação à origem de parte dos recursos recebidos pelo partido

O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, complicou ainda mais a situação do PT no depoimento de mais de sete horas à CPI Mista do Mensalão. Dentre as revelações feitas à comissão, o ex-deputado federal revelou ter pago parte da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo, com dinheiro de caixa 2. Ele também não soube explicar a origem de parte dos R$ 6,5 milhões repassados pelo PT ao PL. Segundo o ex-parlamentar, 80% saíram das contas do empresário Marcos Valério de Souza - versão idêntica àquela apresentada pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e por outros petistas - mas, sobre o restante, Costa Neto não saberia dizer de onde veio. "Oitenta porcento vieram da SMP&B", disse Costa Neto, ao responder uma pergunta feita pelo deputado Júlio Redecker (PSDB-RS). A SMP&B é uma das agências das quais Marcos Valério é sócio. Todo o dinheiro do esquema de financiamento não contabilizado de campanha e, possivelmente, mensalão, teria saído de contas bancárias dessa empresa no Banco Rural e no BMG. O tucano havia perguntado ao presidente do PL se ele "tinha consciência de que a fonte de todos os recursos eram os empréstimos feitos por Marcos Valério". Sobre o restante, Costa Neto não soube explicar: "O dinheiro era entregue a mim por seguranças. Eles vinham a mando do Delúbio". Redecker imediatamente concluiu. "O senhor está dizendo que os recursos distribuídos pelo PT aos partidos e usado para o pagamento das campanhas com caixa 2 pode ter vindo de outras fontes que não as contas do Marcos Valério", disse. Diante da afirmativa, o presidente do PL se calou. A versão apresentada contradiz os depoimentos de Delúbio e Valério nas CPIs do Mensalão e dos Correios. Tanto o empresário quanto o ex-tesoureiro petista sempre apresentarem empréstimos de R$ 55 milhões tomados pelas empresas de Valério no Banco Rural e no BMG como a origem de todo o dinheiro distribuído pelo PT. Outra contradição apresentada refere-se aos valores recebidos por Costa Neto. Valério e Delúbio dizem que o PL recebeu R$ 10,8 milhões originados nos empréstimos. "Só recebemos R$ 6,5 milhões", repetiu diversas vezes na tarde de ontem o presidente do PL. Em outro momento, Costa Neto disse que foi de Marcos Valério a idéia de usar a empresa Garanhuns para mediar o repasse de dinheiro ao PL (R$ 1,2 milhão foram repassados por meio de cheques da SMP&B à empresa). "Eu nunca tinha ouvido falar dessa empresa. Nem o Delúbio sabia", disse. Em nota divulgada à imprensa na tarde de ontem, Valério nega a versão do presidente do PL e disse que a empresa foi apresentada por Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL. Costa Neto também complicou o PT ao falar do uso dado por ele aos R$ 6,5 milhões recebidos. "Foram totalmente gastos na campanha do presidente Lula", disse o ex-deputado. Ele explicou que, durante o segundo turno das eleições de 2002, havia o temor de José Serra (PSDB) vencer o candidato petista em São Paulo. "Pedi para o Delúbio para mobilizarmos nosso pessoal em São Paulo, onde o PL tem muita estrutura. Ele me disse para mandar rodar o material de campanha. Fizemos isso", disse Costa Neto. "Só terminamos de pagar todos os fornecedores 18 meses depois da posse, à medida que chegavam as parcelas dos R$ 6,5 milhões repassados pelo Delúbio", completou o presidente do PL. "Esse dinheiro todo, então, não foi contabilizado. O Delúbio sempre insistiu na tese de que a campanha de Lula não teve caixa 2", concluiu o deputado federal Fernando Coruja (PPS-SC). Aos poucos, os depoentes têm revelado existência de caixa 2 na campanha do presidente. Há uma semana, o tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, revelou o pagamento de vídeos gravados por Ciro Gomes em apoio a Lula com dinheiro não contabilizado repassado por Valério ao PTB. Os R$ 6,5 milhões recebidos por Costa Neto faziam parte de um acordo firmado entre o PL e o PT quando do acerto final do acordo para José Alencar ser o vice de Lula na campanha. Delúbio fez projeção de arrecadar R$ 40 milhões nas eleições. Pelo acerto, feito na casa do deputado federal Paulo Rocha em Brasília, caberia ao PL 25% desse valor (R$ 10 milhões). Como o PT só conseguiu R$ 36 milhões, só chegaram às mãos de Costa Neto os R$ 6,5 milhões. "E só recebemos esse dinheiro depois da posse", disse o presidente liberal. Ele diz ter comprovantes de R$ 1,7 milhão. Os demais R$ 4,8 milhões foram entregues sem qualquer registro. Costa Neto disse ter recebido de Delúbio um voto de confiança. "Vou legalizar tudo isso aí", teria dito o ex-tesoureiro do PT ao cacique do PL. Ao iniciar seu depoimento, Costa Neto usou parte da introdução para atacar o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das denúncias de mensalão e o principal inimigo do presidente do PL nessa crise.