Título: Berzoini e Deda já aparecem como alternativa
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Política, p. A10

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu recuou e decidiu permanecer na chapa que concorre ao Diretório Nacional do PT, apesar do ultimato de Tarso Genro, que deu prazo até hoje para Dirceu sair ou ele próprio renunciaria à disputa pela presidência do partido. Em conversas no plenário da Câmara, Dirceu classificou de "vilania" e de "covardia" a ação de Tarso. "É um prejulgamento. Se eu atender a um ultimato, não tenho condições de construir uma defesa", dizia. "Se o PT me tirar da chapa, como vou defender meu mandato"? Como Dirceu não fez uma declaração oficial, até a noite de ontem Tarso não confirmou se cumprirá a promessa de renunciar à disputa pela presidência do PT, caso Dirceu não saia da chapa até hoje, quarta-feira. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) conversou com Tarso Genro à noite e pediu para ele não tomasse nenhuma decisão até que façam a reunião dos três, provavelmente hoje mesmo. Genro acatou o apelo. Como uma terceira via ao processo de disputa pela presidência do PT, Ricardo Berzoini, ex-ministro e secretário-geral do partido, aparece como nome mais indicado para substituir Tarso. Berzoini já disse que aceita a missão, mas outros nomes também são cogitados. O prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, alternativa lembrada pelo próprio Tarso. O ultimato a Dirceu, as críticas à política econômica e a declaração de que não votaria no ministro Antonio Palocci (Fazenda) se ele fosse candidato a presidente da República fragilizaram a candidatura de Tarso no Campo Majoritário, a tendência que controla a sigla. Nas conversas que que manteve ontem, Dirceu disse que Tarso acredita que o governo acabou e desde já tenta articular uma opção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de outubro do próximo ano. Na noite de segunda-feira, Dirceu deu sinais de que poderia ceder à pressão de Tarso e de aliados do Campo Majoritário. Recuou quando soube do ultimato. Havia pelo menos duas semanas que o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (SE), o ex-deputado Vladimir Palmeira (RJ) e Berzoini (SP) negociavam com Dirceu sua retirada da chapa. Semana passada, finalmente convenceram o ex-ministro a conversar com Tarso. Dirceu considerou boa a conversa e ficou de refletir e responder à sugestão do ex-ministro da Educação. Ao sair do apartamento de Dirceu, no entanto, Tarso deu declarações dizendo que sua retirada da chapa não seria uma "confissão de culpa". Dirceu não gostou, mas continuou a consultar aliados. Anteontem, prometeu dar uma resposta hoje e disse que tinha boa vontade com a candidatura de Tarso e que sua intenção era ajudar o partido. À noite, Tarso deu o ultimato, outra vez publicamente, e destruiu as pontes com Dirceu. "O Tarso está fazendo esse debate pela imprensa. Eu não mereço isso. É uma vilania. É covardia", disse José Dirceu a interlocutores. O próprio Déda reclamou da postura de Tarso Genro: "Estamos juntos nesse projeto. Discute um pouco com a gente, antes de falar", pediu o prefeito ao ex-ministro da Educação. O aprofundamento da crise do PT desagradou o Palácio do Planalto. O ministro de Relações Institucionais, Jacques Wagner, disse ontem que vê a disputa entre José Dirceu e Tarso Genro com "preocupação". "Não é o momento de duas pessoas da importância do Tarso e do Dirceu, em meio à crise do PT, fazerem um debate público sobre questões internas. Prefiro acreditar que, internamente, chegaremos a um denominador comum", disse Wagner. Para Jacques Wagner, esse não é o momento ideal para se realizar as eleições na presidência do partido. No entanto, a tese de adiamento da votação não prosperou e a eleição está marcada para 18 de setembro. O ministro ainda alimenta esperanças de um adiamento. "Até o último momento, a depender da conjuntura, podemos reavaliar", disse ele. O deputado Paulo Delgado (PT-MG) concorda que o partido precisava de mais tempo para tentar se reorganizar. "O PT insiste em manter a rotina num momento de crise. Temos que entender que isso é uma emergência", ponderou. Como responsável pela relação institucional do Executivo com os partidos políticos, Jacques Wagner admitiu que tem um papel importante no diálogo com dirigentes petistas. "A paz na base aliada e no PT contribui muito com o meu trabalho", explicou. A orientação que recebeu, segundo o ministro, é para tentar equacionar da forma mais tranqüila possível os embates na legenda. "Se queremos reequacionar as relações do governo com o Congresso, seria muito bom que o partido do presidente desse o exemplo", disse. "Eu me comprometo a aceitar a presidência até o PED, sem compromisso de concorrer. A antiga maioria não existe mais e é necessário compor a nova maioria. Para isso, é preciso ruptura", disse Tarso genro ontem, durante sabatina realizada pelo jornal "Folha de S. Paulo", na capital paulista. "Às vezes a gente dramatiza como se fosse a disputa entre dois líderes e não se trata disso. Ou nós constituímos um núcleo dirigente que tem como meta a refundação do partido, ou faremos uma transição mais lenta, mais vagarosa." Já o discurso de Berzoini, que admite substituir a candidatura Tarso, é diferente. Com tom mais ponderado, mediu suas palavras: "Concordo com Tarso que é necessário ter transparência, mas o processo político que está em curso não se altera de uma hora para outra. Tem que ter paciência", ponderou. O prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, criticou a forma como Tarso Genro deu o ultimato a Dirceu a Dirceu. "Era possível que as pessoas fossem convencidas que a chapa deveria ter um perfil menos vinculado possível à gestão anterior para expressar uma renovação do partido. Quando se reduz o debate interno a pessoas, fica complicado. O debate não pode ser fulanizado".(Colaboraram Cristiane Agostine, de São Paulo, e Jaqueline Paiva, de Brasília).