Título: Tarso diz não ter argumentos para o eleitor petista
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Política, p. A10

Crise Presidente interino do partido volta a dar ultimato para que Dirceu deixe chapa do diretório

"Neste momento, não saberia dar argumentos (para votar no PT na próxima eleição)". Foi assim que o presidente da legenda, Tarso Genro, mostrou o tamanho de sua descrença com os rumos do PT e não soube responder, "nem saberá nos próximos três ou quatro meses", a uma pergunta direta: "Por que votar no PT?". O motivo da insatisfação de Genro tem nome e sobrenome: José Dirceu, seu rival dentro do Campo Majoritário, grupo que controla o partido e do qual Tarso é cotado como candidato para a eleição interna à presidência, em setembro. O atual presidente do PT deu um um ultimato a Dirceu: ou ele sai hoje da chapa ou anuncia sua desistência à disputa pelo cargo. O recado dado por Tarso ontem foi claro: candidato na mesma chapa que Dirceu, não. Em seu entendimento, significaria manter os problemas que abalaram a estrutura no partido. Ele disse pretender mudanças profundas no partido e propôs que, quem não concordasse com essas mudanças, deveria retirar-se da chapa. "A questão da minha permanência é secundária. O importante é a natureza da chapa", disse. "Para que eu seja candidato, tem que ser uma chapa de renovação e de ruptura do núcleo dirigente anterior", afirmou, durante sabatina no jornal "Folha de S. Paulo", ontem. Ao analisar a crise, identificou duas causas: "soberba" e "equívoco sobre o que é o poder" de dirigentes petistas. Tarso teceu duras críticas à gestão anterior do partido e a relação "simbiótica" com o governo, que gerou um "embevecimento prematuro de quem chegou ao poder" e afrouxou os controles internos. Indiretamente, referiu-se às ações do ex-tesoureiro Delúbio Soares e de Dirceu como de "total irresponsabilidade na gestão com total autonomia de determinados gestores que comprometeram a totalidade do partido". Em outro momento, também foi sutil ao falar de sua crença na versão apresentada por Dirceu: "Até que provem o contrário, dou credibilidade às palavras dele. Mas não passo a ele uma procuração em branco." Quando o assunto foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Tarso foi veemente em sua defesa: "Vou poupá-lo sempre, ele é o meu presidente." Em sua opinião, Lula não teve conhecimento dos esquemas de corrupção, mas "não é bobo". E voltou a artilharia para Dirceu. "O presidente outorgou a ele a coordenação de governo", disse. "Lula delegou (poder) exagerado a Dirceu e por isso pediu desculpas. Dirceu era capitão do time. " Entretanto, quando questionado se Lula seria reeleito hoje, esquivou-se: "Hoje é difícil de responder. Não sei se teria condições de se reeleger". Disse também não ter pretensão de lançar-se como candidato, caso o presidente não tente outro mandato e citou o senador Aloizio Mercadante (SP) e o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda como possíveis nomes. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, estaria fora de sua lista: "Não seria meu candidato", disse. Sobre as finanças partidárias, disse que se o PT fosse uma empresa, "estaria falido" e afirmou que a legenda vai negociar as dívidas legais com o Banco do Brasil. "As dívidas irregulares o partido não reconhece. A Justiça vai responder quem vai pagar." Para as próximas eleições, Tarso defendeu um novo sistema de alianças de centro-esquerda, "mais próximo à esquerda", sem citar partidos. Mas suas previsões para a esquerda não são nada otimistas. "O PT começou exatamente como o PSOL. Tomara que não aconteça o que aconteceu conosco".