Título: Presidente pede a ministros que se afastem de disputa interna no PT
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou ontem em reunião com ministros e empresários que a atual política econômica é do governo e não mudará, independente das pressões internas de ministros ou do próprio PT. "Não faremos nada eleitoreiro. Não farei concessões. Enfrentei minha base social e sindical para implementá-la e agora não vou ceder", afirmou o presidente. O presidente explicou que a política econômica é polêmica porque há setores que querem afrouxá-la e, outros, um aperto maior, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que defende um aumento do superávit primário para permitir a queda na taxa de juros. " A política econômica não é de pessoas, mas do governo. Por isso, ela tem sentido de permanência", afirmou, tentando tranqüilizar os empresários ao garantir que não haverá sustos ou mudanças bruscas na economia. As declarações foram dadas durante reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, formado por 12 ministros, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de cientistas. A participação do presidente não estava prevista, mas ele aproveitou o encontro para reafirmar as bases econômicas atuais. O presidente pediu aos empresários ajuda para combater o que considera excessos cometidos pelo Ministério Público e pela oposição. Citou, como excesso, o fato de parlamentares da CPI dos Correios e procuradores darem crédito a denúncias feitas pelo doleiro, Toninho da Barcelona, sem apresentação de provas. O empresário Jorge Gerdau defendeu a continuidade das ações do governo mesmo em meio à crise. "Os debates são difíceis mas reuniões como esta mostram que a pauta do governo deve avançar, mesmo que de forma mais lenta", afirmou. Antes, em Cuiabá, onde esteve para inaugurar uma linha de transmissão de energia da Eletronorte, o presidente disse num discurso em que citou a crise política que atinge seu governo várias vezes, que não vai fazer mudanças na política econômica: "Tem crise, tem. Mas vamos tirar proveito dessa crise para que o país saia dela mais fortalecido. Pela primeira vez existe a perspectiva do país crescer de forma sustentada com inflação baixa. E não jogarei fora essa oportunidade por nada neste mundo. Mudar a economia agora, seria prejudicar os mais pobres", disse Lula, em discurso em Coxipó, às margens da rodovia Cuiabá-Rondonópolis, na região metropolitana de Cuiabá. O presidente defendeu com veemência o ministro da Fazenda Antonio Palocci. Segundo Lula, tanto ele, como o ministro Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, gostariam de baixar os juros de uma forma mais brusca, mas isso ainda não é possível. O presidente garantiu, ainda, que as investigações sobre a corrupção no governo não vão parar e defendeu o ritmo em que a Polícia Federal está procedendo com a investigação. "Por mais séria que seja a crise política que estamos vivendo, o povo saberá debelá-la. Não haverá retrocessos", garantiu Lula. (JP, com agências noticiosas) O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que ministros e assessores não participem diretamente da disputa entre Tarso Genro e José Dirceu pelo comando do PT. A preocupação do Palácio do Planalto é evitar que mais uma crise interna do PT respingue no governo, que começa a respirar após a entrevista do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Mesmo depois da confusão no PT, provocada pelo ultimato dado por Tarso a Dirceu que resiste em sair da chapa do Campo Majoritário, o Palácio do Planalto considera ainda o ex-ministro da educação como o melhor nome para a direção do PT porque tem capacidade de unificar a esquerda e a imagem preservada. Mas Tarso Genro foi considerado por um ministro como "cintura dura" com menos habilidade para negociação do que exige o cargo. No Palácio do Planalto também foram vistas com reserva as declarações do presidente do PT em evento na "Folha de S. Paulo", quando criticou uma possível candidatura do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, à Presidência da República. Assessores consideraram que Tarso deu um passo à frente e já vislumbraria a sua própria candidatura à Presidência da República numa eventual decisão de Lula em desistir da disputa em 2006. Tarso já estaria se posicionando com um candidato com capacidade de aglutinar a esquerda do partido e outras legendas aliadas históricas do PT. Emissários do presidente no PT consideram também que Tarso tem tomado decisões e dado declarações sem discutir com toda a chapa do Campo Majoritário, como as críticas feitas à politica econômica. O presidente Lula pediu a prefeitos de capitais do PT - Marcelo Déda (Aracaju), Fernando Pimentel (Belo Horizonte) e João Paulo (Recife) - para atuarem como bombeiros na crise e convencerem Tarso Genro a se manter na disputa. Já a relação do presidente Lula com o ex-ministro continua distante. Para o Palácio do Planalto o melhor seria que o processo de cassação de Dirceu terminasse o mais rápido possível. A insegurança do Palácio é saber o limite de culpa do ex-ministro na crise atual. Sem saber a sua exata participação, ministros próximos ao presidente evitam dar declarações públicas de apoio ou críticas a Dirceu, já que não há nenhuma prova categórica contra ele, mas politicamente ele se encontra isolado. O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, afirmou ontem que Tasso Genro poderá contornar a crise. "A gente quer que a equação do PT seja a mais tranqüila possível porque ajudará a contornar a crise", afirmou. Ele também será emissário de Lula para tentar convencê-lo a se manter na disputa.