Título: MatlinPatterson pode avançar em resgate da Varig
Autor: Vanessa Adachi e Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Empresas &, p. B2

Aviação Fundo fez acordo para comprar VarigLog por US$ 98 milhões, sendo US$ 60 milhões em dívidas

O interesse do fundo americano MatlinPatterson pode ir muito além da compra da empresa de carga da Varig, a VarigLog, cuja intenção foi oficializada ontem. Segundo o Valor apurou, em duas passagens do acordo preliminar assinado na segunda-feira, o fundo se coloca como possível parceiro da Varig no processo de reestruturação como um todo. De acordo com fontes que acompanham o processo, uma das possibilidades aventadas nas conversas até agora é que o MatlinPatterson ofereça uma opção de saída a credores que não estejam dispostos a participar do pacote de recuperação da aérea. Essa, aliás, é uma especialidade da firma americana. O MatlinPatterson, especializado no investimento em companhias endividadas, ofereceu desembolsar US$ 38 milhões para ficar com a VarigLog. Além de assumir US$ 60 milhões em dívidas e contingências. Os US$ 38 milhões são, portanto, o valor líquido que a empresa aérea vai receber. Num levantamento preliminar, a VarigLog foi avaliada em US$ 100 milhões e o fundo concordou em pagar US$ 98 milhões por 95% do seu capital, explicou o presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha. Para concretizar a operação, o fundo abriu uma empresa no Brasil, a Velo, já que a legislação não permite que uma empresa estrangeira tenha mais de 20% do capital votante de uma companhia aérea. A proposta do fundo foi formalizada num contrato preliminar. A documentação foi entregue ao juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Alexander dos Santos Macedo, responsável pela recuperação judicial da Varig, que terá que aprovar a transação. O fechamento dessa operação tornou-se crucial para irrigar o caixa da Varig e permitir a sua sobrevivência até o fim do ano, quando o plano de recuperação terá que ser aprovado pelos credores para começar a ser implementado. Desde que pediu a recuperação, em junho, a Varig viu o seu já escasso acesso ao crédito secar de vez diante do ceticismo de antigos fornecedores e de bancos. O fundo americano também concordou em emprestar dinheiro à companhia mãe. Vai descontar US$ 50 milhões a US$ 65 milhões em recebíveis de cartão de crédito Visa que a Varig não tem conseguido descontar com bancos. Inicialmente, serão descontados US$ 10 milhões. Carneiro da Cunha ressaltou que não haverá deságio no desconto dos recebíveis. Ou seja, o MatlinPatterson não cobrará pelo empréstimo. Além de dívida velha, desde que entrou em recuperação, a Varig já acumulou quase US$ 30 milhões de aluguel de aviões em atraso, o que criou um risco real de retomada de aeronaves nos Estados Unidos, apesar das liminares conseguidas até agora. Na semana passada, Carneiro da Cunha esteve em Nova York para apresentar às companhias de leasing a operação de venda da VarigLog e explicar a sua necessidade. Alguns saíram do encontro convencidos de que a venda é apenas um paliativo. A operação com o fundo funcionará assim: assim que o juiz aprovar a venda da VarigLog, o que se espera que aconteça na semana que vem, o MatlinPatterson adiantará os US$ 38 milhões à Varig. Esse valor será garantido por recebíveis. Caso a operação, por alguma razão não se concretize, os próprios recebíveis liquidarão o adiantamento, conforme forem vencendo. Na mesma ocasião, o fundo descontará outros US$ 10 milhões em recebíveis. O presidente da Varig espera colocar no caixa da aérea esses primeiros US$ 48 milhões até o fim deste mês. A auditoria que determinará o valor preciso da VarigLog ainda levará 30 dias. Tão logo seja concluída e as ações sejam entregues ao novo controlador, o fundo abaterá o pagamento dos US$ 38 milhões do adiantamento dado e descontará outros US$ 40 milhões em recebíveis, que, somados aos US$ 10 milhões iniciais, totalizarão US$ 50 milhões em recebíveis. "Mais à frente temos ainda o direito de fazer uma segunda tranche de US$ 15 milhões", explicou Cunha. Os dinheiro que entrará no caixa será usado integralmente para pagamento das empresas de leasing, dos salários atrasados e das despesas e peças de manutenção para colocar no ar nove aviões que estão parados. Com esse fôlego, os administradores da aérea ganham algum tempo inclusive para avaliar melhor a venda de outra subsidiária da Varig, a VEM, de manutenção de aviões. A VarigLog transporta cargas com sua frota de 11 cargueiros e nos porões dos aviões de passageiros da Varig. Essa "barriga de aluguel" rende à aérea uma receita mensal de cerca de US$ 9 milhões. O MatlinPatterson se comprometeu a manter esses contratos inalterados até o fim deste ano. O juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio deu prazo de 24 horas para que os credores da aérea se manifestem sobre a venda da VarigLog. E concedeu 48 horas para que o Ministério Público avalie a transação. A venda da VarigLog terá que ser aprovada em assembléia de acionistas da Fundação Ruben Berta Participações (FRB-Par), que deve ocorrer em 15 dias.