Título: Referendo provoca corrida às lojas
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Empresas &, p. B6

Armas Vendas de revólveres, pistolas, carabinas e balas aumentaram nos últimos meses

Ao mesmo tempo em que gera protestos das indústrias do setor, a iminência da proibição da venda de armas e munições para civis a partir do referendo nacional programado para outubro está provocando uma corrida às lojas. As vendas de revólveres, pistolas, carabinas e espingardas, assim como de balas de diferentes calibres, aumentaram nos últimos meses. Os números sobre novos registros de armas são centralizados hoje pela Polícia Federal, que há um ano assumiu essa responsabilidade após a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento. Esse trabalho era realizado até então pelas secretarias estaduais de Segurança. Isso dificulta a comparação com o mesmo período de 2004, mas esse movimento já pode ser registrado nos números das empresas que atuam no setor. Segundo o vendedor de uma das principais lojas de armas de Porto Alegre, visitada pelo Valor, "está todo mundo comprando" para escapar da possível proibição, embora não esteja claro o que acontecerá com os registros concedidos antes do referendo. A tendência foi confirmada pelo proprietário da Casa Paulo, de Novo Hamburgo, na região metropolitana, Jorge Soares. Ele diz que entre cinco e seis pessoas chegam à loja por dia em busca de informações sobre como adquirir uma arma. Muitas, porém, assustam-se com as taxas que somam até R$ 800 (equivalente a cerca de 50% do preço de uma pistola de 15 tiros) entre registro e despesas com teste psicológico, curso de tiro e emissão de certidões. Mesmo assim, nos dois últimos meses ele vendeu, em média, uma arma por semana, enquanto no início do ano os negócios estavam completamente paralisados. Atualmente as vendas são feitas por catálogo para evitar a manutenção de estoques de armas nas lojas. O fenômeno se repete na venda de munição, que também poderá ser proibida depois do referendo. De acordo com Soares, o movimento aumentou a partir de maio e hoje ele comercializa cerca de 3 mil balas de variados calibres por mês, ante um mil no início do ano. O que acontece, explica, é que os proprietários de armas já registradas estão adquirindo a cota mensal permitida de 50 cartuchos para fazer estoque. A Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), principal fabricante de munições do país, registrou uma ligeira alta nas vendas líquidas no primeiro semestre, passando de R$ 74,44 milhões contra R$ 74,19 milhões no ano passado. A Forjas Taurus, única fornecedora nacional de armas curtas, não quis comentar o assunto. Mas no primeiro semestre, o aumento da procura por armas aparentemente favoreceu a companhia. Conforme o demonstrativo de resultados encaminhado à Bovespa, as vendas não consolidadas da empresa (excetuando-se controladas que operam em outros segmentos) no mercado interno cresceram de R$ 13,7 milhões no primeiro semestre de 2004 para R$ 19,5 milhões no mesmo período deste ano. O resultado líquido, entretanto, passou de um lucro de R$ 12,4 milhões para prejuízo de R$ 1,7 milhões, basicamente por conta da perda de margem nas exportações, que alcançaram R$ 57,2 milhões em 2005, em função do dólar desvalorizado e do aumento dos custos de produção. Mesmo assim, segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, Lírio Rosa, o presidente da Taurus, Carlos Murgel, já afirmou em reuniões internas que poderia transferir a fábrica de armas de Porto Alegre para outro país caso fosse imposta a proibição de vendas no mercado interno, o que poderia provocar a demissão de mais de 1,5 mil trabalhadores. A empresa já mantém uma filial em Miami, responsável pela importação das armas do Brasil e pela distribuição nos Estados Unidos. O sindicato divulgou um manifesto orientando a população a votar contra o desarmamento no plebiscito porque a medida, além de provocar demissões no setor, não reduzirá a violência causada por fatores como "desemprego, má distribuição de renda, ausência do Estado no que diz respeito a políticas sociais de inclusão, crime organizado e contrabando de armas". A fabricante de armas longas Rossi, de São Leopoldo (RS), também não quis se manifestar.