Título: Taxas médias caem pelo 2º mês seguido
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Finanças, p. C1

As taxas de juros dos empréstimos com recursos livres voltaram a cair em julho, pelo segundo mês seguido, favorecidas pela perspectiva de uma política monetária menos restritiva no médio e longo prazos. Os juros médios recuaram de 49% para 48,8% ao ano entre junho e julho, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. Um mês antes, em maio, estavam em 49,4% ao ano. Os dados do BC mostram queda tanto nos juros médios a pessoas físicas (64,7% para 64,5% ao ano) quanto para pessoas jurídicas (33,4% para 33% ao ano). Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a queda se deve à interrupção, em maio, do ciclo de alta da taxa básica de juro (Selic), que entre setembro de 2004 e abril de 2005 subiu de 16% para 19,75% ao ano. A manutenção do juro básico em 19,75% em maio e nos meses seguintes, ao lado da queda da inflação corrente, explicou Lopes, levaram os agentes econômicos a projetarem taxas mais baixas nos mercados futuros, sobretudo no médio e no longo prazos. Esse cenário mais benigno permitiu que os bancos captassem recursos pagando juros mais baixos, repassando os ganhos à clientela. O custo de captação dos bancos recuou de 19,2% para 19% ao ano entre julho e julho; um mês antes, em maio, encontravam-se em 19,4% ao ano. Essa queda no custo de captação, de 0,2 ponto percentual, foi integralmente transferida pelos bancos às taxas cobradas dos clientes, que caíram 0,2 ponto no mês. "As quedas nas taxas foram mais pronunciadas nas linhas de crédito com prazo mais longo, como veículos, porque a curva de juros tem caído mais nos prazos mais longos", disse Lopes. Os juros nas linhas de financiamento de veículos recuaram de 36,9% para 36,1% ao ano. O prazo médio das operações para veículos, que subiu de 472 para 473 dias, é o segundo mais longo das linhas dirigidas a pessoas físicas, atrás apenas dos financiamentos imobiliários. O mesmo não ocorre em linhas de curto prazo - é o caso, por exemplo, do cheque especial, cujos juros ficaram estáveis em 148% ao ano em julho. A estabilidade da taxa se explica, de um lado, pela alta do custo de captação dos bancos para essa linha, que subiu de 17,8% para 18,2% ao ano; e, de outro, pela compressão do "spread" bancário. O custo de captação do cheque especial subiu porque houve pressão na taxa de juros no curto prazo. Lopes disse que, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC cortar a taxa básica, a tendência é que a curva de juros futuros fique menos pressionada no curto prazo, reduzindo custos de captação dos bancos, que tenderão a repassar esses ganhos para a sua clientela. O mesmo raciocínio vale para as linhas para pessoas jurídicas. Os juros cobrados no desconto de duplicatas, que tinha prazo médio mais curto (32 dias em julho), subiu de 42,6% para 42,7% ao ano; já a taxa cobrada no capital de giro, com prazo médio mais longo (309 dias), caiu de 39,6% para 36,1% ao ano. As taxas do crédito consignado mantiveram-se estáveis em julho, em 36,8% ao ano, interrompendo tendência de queda que vinha sendo verificada desde janeiro (quando a taxa média era de 38,9%). (AR)