Título: Para Meirelles, crise política ajuda a mostrar a robustez da economia
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Finanças, p. C2

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, surpreendeu ontem uma platéia de investidores em Nova York ao dizer que a crise política "tem um lado bom" para a economia. "Em relação ao nível de previsibilidade da economia (...), a crise ajuda", afirmou Meirelles. Para o presidente do BC, embora a "crise em si não seja boa", demonstra que o nível de incerteza na economia está diminuindo. Um exemplo, disse Meirelles, foi o compromisso do governo com a política econômica expressado pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em entrevista no fim de semana. "O lado positivo é mostrar que o país tem capacidade de enfrentar essas crises porque tem uma economia menos vulnerável (...) O Brasil já saiu da fase de entrar em crise econômica, crise de balanço de pagamentos, por conta de crises em outros segmentos", explicou o presidente do BC mais tarde, em entrevista coletiva. O presidente do BC diz que o empresariado também tem tido um comportamento mais tranqüilo de tomada de decisões de investimento com base em dados de consumo e produção industrial. "Até agora os investimentos continuam acontecendo (...) e as companhias fazendo o necessário para atender à sua demanda". Meirelles concorda, entretanto, que investimentos mais estratégicos, de longo prazo e mais arriscados, possam ser adiados por causa da paralisação da agenda de reformas no Congresso. "É claro que quanto mais cedo forem retomadas as reformas, melhor para a produtividade da economia a longo prazo", destacou. A continuidade das reformas é a maior preocupação do diretor do fundo de investimentos Pimco, Mohamed El-Erian. O Pimco, que tem a maior carteira do mundo em títulos da dívida de países emergentes, está mais atento à chance de continuar mudanças estruturais do que no envolvimento de figuras do governo em escândalos. O presidente do BC procurou minimizar as reações do mercado aos episódios da crise. "Não há economia que seja invulnerável e mercados que não reajam a eventos, mas o que muda é a magnitude da volatilidade, a magnitude da reação. Nesse aspecto o Brasil progrediu." Depois de um café da manhã organizado pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, Meirelles participou de um almoço no Federal Reserve (banco central americano) de Nova York, onde conversou com banqueiros. Disse que a maior parte das perguntas referiu-se à reação da economia à crise política. Para Meirelles, as críticas à manutenção das taxas de juros na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) "são normais, especialmente se são expressões do desejo" de juros mais baixos. Evitou discutir os motivos da decisão porque o texto da ata da reunião será divulgado amanhã. Só disse que a decisão do BC foi "tecnicamente correta". Executivos de bancos bateram na tecla dos juros nas perguntas a Meirelles. O presidente do BC justificou o fato de os juros brasileiros serem mais altos que em outros países com risco maior dizendo que os investidores exigem taxas de retorno mais altas devido à imprevisibilidade. Referiu-se ainda à diferença entre os índices de inflação projetados e os efetivamente ocorridos.