Título: Procura por certificação cresce 5% ao ano
Autor: Amundsen Limeira
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2005, Valor Especial / ECOEFICIÊNCIA, p. F2

Gestão ambiental Hospitais, destilarias e até fazendas de café querem estar enquadradas na norma 14.001

Seja pela maior consciência ambiental, seja por exigência do próprio mercado, as empresas já sabem que investir na preservação do meio ambiente não só ajuda no sucesso empresarial como contribui para ampliar as vantagens competitivas de seus produtos. No Brasil, um dos indicadores dessa tendência é o número cada vez maior de companhias aparelhadas com Sistema de Gestão Ambiental (SGA), ferramenta que adotam quando buscam o aval da Norma 14.001 para mostrar adequação à legislação. "É a maneira inteligente de encarar a gestão ambiental dentro da empresa", comenta José Joaquim do Amaral Ferreira, diretor de certificação da Fundação Vanzolini, que pertence à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, uma das pelo menos 30 entidades certificadoras que existem no país. Fundada em 1967, começou a trabalhar com a ISO 14.000 a partir de 1997. De lá para cá, já concedeu certificação ambiental a mais de 80 empresas, entre hospitais, mineradoras, indústria de fertilizantes, destilarias, postos de gasolina e fazenda de café. Deste total, entre 20% e 30% são de grande porte e pelo menos mais da metade são de médio porte. Para o técnico, a aposta vale a pena. Entre os ganhos tangíveis, destaca, principalmente, a eficiência operacional obtida com a implantação do SGA (economia de energia e de insumos, otimização da produção, aproveitamento de resíduos industriais). Sem falar dos chamados ganhos intangíveis, como valorização da marca e o respeito das comunidades que vivem no entorno das fábricas. Além disso, lembra Ferreira, quem ficar de fora está ameaçado de perder espaço no competitivo mundo dos negócios, já que muitos segmentos restringem suas encomendas a empresas comprometidas com o controle interno ambiental. Segundo ele, as montadoras automobilísticas e a indústria química foram as primeiras a exigir certificação ISO 14.001 dos seus fornecedores. Tanto é assim que há um crescimento, em nível mundial, de certificações nessa área. "No Brasil, a procura pela certificação tem se mantido constante. Aumenta na faixa de 5% ao ano", calcula o diretor da Fundação Vanzolini. O país ocupa a 11ª posição no ranking mundial das empresas certificadas com a norma internacional 14.001, com um total de 1,8 mil, à frente de países como o Canadá, Austrália, México e a vizinha Argentina. A fábrica da Johnson & Johnson em São José dos Campos, por exemplo, possui certificação pela ISO 14.001 desde 2001, e a nível mundial, desde 1991. Com a implantação do Sistema de Gestão Ambiental na unidade do interior paulista, a empresa destina cerca de US$ 3 milhões anuais, em média, a programas voltados para a redução do consumo de energia elétrica, diminuição das emissões de dióxido de carbono, racionalização do uso da água, entre outros. André Marinovic, diretor de saúde, segurança e meio ambiente para a América Latina e Caribe da companhia, conta que cerca de 76% dos resíduos já são reaproveitados como matéria-prima para fabricação de produtos que vão de bancos e brinquedos a lonas de freio para automóveis. Além de evitar o impacto no meio ambiente, algumas sobras representam renda para entidades assistenciais e comunidades carentes. O executivo diz ainda que uma das metas fixadas para 2006 é iniciar o processo de substituição de todo o PVC utilizado nas embalagens dos seus produtos: das simples agulhas cirúrgicas até as dos talcos, xampus e absorventes femininos, processo que deverá concluir até o final de 2010. Nesse período, o objetivo é aplicar uma redução de até 7% na emissão de dióxido de carbono, em relação aos níveis de 1990, e em até 10% a geração de resíduos industriais. Além disso, pretende intensificar o programa de capacitação de fornecedores, que receberão maior suporte da empresa, desde que atendam aos requisitos do seu Sistema de Gestão Ambiental. "Toda empresa que trabalha com a Johnson & Johnson é avaliada para verificar sua adequação aos requisitos de preservação ambiental. Não queremos parceiros que tenham problemas nessa área", avisa Marinovic. Avaliar e auditar as práticas ambientais são uma exigência da ISO 14.001 seguida à risca na Scania do Brasil. Na montadora, a decisão pela implantação do Sistema de Gestão Ambiental partiu da matriz, na Suécia. A fábrica de São Bernardo do Campo foi a primeira do grupo e a primeira montadora da América Latina a receber a certificação ambiental por sua atuação na eficiência dos processos de produção. De acordo com Vera Lúcia Tavares, chefe de Sistemas de Gestão de Qualidade, Meio Ambiente e Segurança da Scania no Brasil, a empresa procura incentivar suas concessionárias a buscar a certificação ambiental e atender requisitos mínimos de preservação ambiental definidos pela montadora. Peças e componentes dos veículos são identificados quanto ao tipo de material para facilitar sua desmontagem e reciclagem no final da vida útil do produto. "Entre os fornecedores prestadores de serviços ambientais, aqueles que recebem, tratam e destinam nossos resíduos, é feita uma avaliação documental e uma auditoria para verificar suas práticas ambientais. Em relação aos fornecedores de material direto, a Scania foi a primeira montadora a solicitar a certificação ambiental", declara Vera. Segundo ela, pelo menos 56% deles são certificados. A executiva diz que, como uma empresa de transporte, a Scania tem consciência que a maior contribuição que pode fazer para o meio ambiente é de forma contínua desenvolver produtos que consumam menos, gerem menos emissões no ar, menos ruídos, que não utilizem substâncias perigosas e possam ser reciclados no final da sua vida útil. Na Organon, empresa do grupo holandês Akso Nobel que produz hormônio feminino em São Paulo, o Sistema de Gestão Ambiental está implantado há seis anos. O investimento nesse período é da ordem de R$ 1 milhão por ano, em média, com resultados medidos em melhoria da imagem da companhia junto ao mercado e na otimização no seu processo de produção. "Ao mesmo tempo em que é uma ferramenta importante para identificar as oportunidades de melhorias na área ambiental, o SGA mostra o nosso comprometimento como empresa de responsabilidade social perante a comunidade", constata Luís Antônio Hernandez Jr., gerente de saúde, segurança e meio ambiente da Organon. Para ele, ao mapear os riscos, o sistema aponta o tipo de treinamento mais adequado para os seus funcionários e as formas de controle e de eliminação da geração de resíduos industriais. "Sem contar que a melhoria de desempenho é sistematicamente discutida com a diretoria", acrescenta Hernandez. Atualmente, 75% de todo resíduo industrial da empresa passam por um processo de reciclagem. Cerca de 100 toneladas de material, que antes eram depositadas em aterro sanitário, são tratadas e vendidas como matéria-prima para usinas de asfalto. Outra ação é o programa de reutilização da água usada durante o processo de produção. Do total de 1,7 milhão de litros consumidos mensalmente, 80 mil litros já são reciclados e reaproveitados na fábrica.