Título: Montadoras do Mercosul querem limitar entrada de carros da UE a 40 mil por ano
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Brasil, p. A2

A proposta das montadoras instaladas no Mercosul para a abertura do setor automotivo do bloco à União Européia prevê limitar a entrada de veículos europeus a uma cota de cerca de 40 mil unidades/ ano. As tarifas só começariam a cair depois de seis anos e a liberalização total do comércio levaria outros dez anos. A oferta foi acertada semana passada entre representantes das associações de fabricantes de veículos do Brasil (Anfavea) e da Argentina (Adefa), segundo uma fonte do setor industrial argentino. De acordo com a fonte, não houve um acerto formal entre as empresas e os governos, mas em princípio as autoridades dos dois países estariam de acordo com esses termos. A nova oferta difere um pouco da que foi apresentada pelo Mercosul em maio de 2004. Na ocasião, o bloco propôs uma cota de 25 mil automóveis e um programa de redução tarifária em dez anos, mas só depois de que o pacto estivesse vigente por oito anos. Segundo empresários do setor, a proposta das montadoras poderia ser levada à reunião ministerial de Bruxelas, que na sexta-feira analisará o progresso das negociações entre os dois blocos comerciais. Os empresários brasileiros queriam oferecer uma cota um pouco maior, de 60 mil veículos por ano, mas a idéia não foi aceita pelo lado argentino. Isso porque para as filiais das montadoras instaladas no país vizinho interessa limitar a abertura do mercado aos veículos de alta gama, que cobrem uma pequena faixa do mercado. Ampliar a cota poderia dar chance para que os europeus concorram com os argentinos nas vendas ao Brasil de carros médios, ramo da indústria automobilística em que a Argentina se especializou. A Argentina também vive neste momento uma situação política que indica que o governo está mais preocupado com medidas para proteger a sua indústria do que com esforços de liberalização comercial. As autoridades do país não aceitaram liberalizar o comércio de automóveis dentro do próprio Mercosul a partir do ano que vem, como estava previsto no acordo automotivo do bloco. Na semana passada, os dois governos fizeram, junto com o setor privado, a primeira reunião para tentar definir as regras do comércio de automóveis a partir de 2006. As empresas dos dois lados da fronteira querem que a liberalização ocorra em 2008, mas o governo argentino não quer definir data, alegando que só poderá haver livre comércio quando houver melhores condições de competir com o Brasil.