Título: Para Mantega, gasto do governo está ajudando economia
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Brasil, p. A3

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, projetou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu entre 1% e 1,4% no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro na série livre de efeitos sazonais. O dado oficial será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) amanhã. "É um desempenho surpreendente", disse Mantega, que participou de almoço, em São Paulo, com cerca de 20 empresários do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O PIB cresceu apenas 0,3% no primeiro trimestre de 2005 em relação ao quarto trimestre de 2004. Mantega estima que a economia brasileira vai crescer entre 3,5% e 4% este ano, com ajuda de maiores gastos do governo na infra-estrutura. Para o presidente do BNDES, a indústria será o destaque do resultado do PIB do segundo trimestre. Ele também acredita em uma pequena recuperação do consumo das famílias e do consumo do governo. "Está ocorrendo um fortalecimento gradativo do mercado interno", disse Mantega. Na sua avaliação, já apareceram alguns sinais: aumento da massa salarial, incremento do salário médio real, queda do desemprego, aumento das vendas do varejo. Ele também aposta em queda de taxas de juros no próximo mês. Mantega chamou a atenção para o aumento do investimento das empresas. Ele salientou que o câmbio impulsionou a importação de máquinas e equipamentos, e que o consumo aparente (vendas internas, mais importação, menos exportação) do setor cresceu 26% no primeiro semestre do ano ante igual período de 2004. Segundo o presidente do BNDES, o banco verificou uma demanda expressiva das empresas por financiamento de bens de capital, com exceção do setor agrícola, que enfrenta uma grave crise. Conforme Mantega, os desembolsos totais do banco para a indústria aumentaram 39% de janeiro a julho deste ano, ante igual período de 2004. Ele ressaltou que alguns segmentos registraram crescimento de 80% a 90% na demanda por linhas de crédito do Finame. "Aves do mau agouro dizem que a economia brasileira está paralisada, mas não é nada disso", disse Mantega. "O governo está gastando e investindo em ritmo mais acelerado que nos anos anteriores. A crise política não influenciou". Ele garantiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende manter o superávit fiscal em 4,25% do PIB. "Não houve qualquer mudança de estratégia. Fazemos superávit para garantir que o governo é solvente e a relação entre a dívida pública e o PIB está caindo". disse Mantega. Segundo ele, o indicador dívida pública/PIB era de 57% no início da gestão Lula e hoje está em 51%. "Não é necessário fazer um esforço maior, porque o Brasil também precisa de investimento em infraestrutura, para continuar crescendo", disse Mantega. O superávit fiscal está hoje em cerca 6% do PIB, o que dá uma folga orçamentária para o governo até o fim do ano. Segundo Mantega, esse dinheiro será aplicado em pavimentação de estradas, modernização de portos, saneamento e habitação. "Esses são os quatro setores que merecem a atenção do governo", ressaltou. Mantega disse que a arrecadação aumentou por conta do crescimento da economia. Ele não descartou o risco de o governo obter um superávit maior em 2005 por conta de um excesso de arrecadação no final do ano, como ocorreu em 2004, quando a meta era 4,25%, mas o superávit foi de 4,5%. "Existe a possibilidade que sobre dinheiro e o governo não vai desperdiçar, mas, por enquanto, ainda dá tempo de aplicar esse dinheiro em projetos de infraestrutura já aprovados".