Título: Ofensiva para barrar escalada de Serra
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Política, p. A6

Está em curso no PSDB um movimento para prorrogar, de novembro para março de 2006, a convenção destinada a eleger os novos dirigentes tucanos. Na prática, isso significa esticar até março do próximo ano o mandato do atual presidente do partido, José Serra, licenciado do cargo, mas ainda seu titular de direito. Trata-se, na realidade, de mais um lance na já renhida disputa interna pela indicação do candidato da sigla à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quem acha escandaloso o fogo amigo do PT, talvez tenha esquecido o tiroteio tucano em 2002, que acabou por esterilizar de uma vez por todas as chances de Serra contra Lula - fogo amigo maldizente, cruel e sorrateiro. Sob a alegação de que Serra impusera o próprio nome, caciques tucanos abandonaram o candidato antes mesmo de a disputa esquentar. Avalista de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em mais de uma ocasião criou situações constrangedoras para o candidato. A ofensiva para frear a escalada de Serra começou tão logo foram conhecidos os resultados da pesquisa Datafolha, na qual o prefeito de São Paulo, pela primeira vez, bate Lula já no primeiro turno da eleição. Até agora portador do passaporte de "candidato natural", Geraldo Alckmin foi a público lembrar a todos que está no páreo. De Belo Horizonte (MG), o governador Aécio Neves tratou de dizer que os tucanos não deveriam se iludir e "saborear excessivamente", neste instante, as pesquisas eleitorais. Com a fragilização acentuada de Lula, tanto Alckmin como Aécio passaram a avaliar que qualquer um dos três tem chances efetivas de bater o presidente nas próximas eleições. Aliás, Fernando Henrique acredita que qualquer um dos quatro terá condições de derrotar o PT. Para nenhum dos quatro é negócio a eventual consolidação da candidatura Serra a 13 meses da eleição presidencial de 1º de outubro de 2006. A idéia é restabelecer o cronograma original dos tucanos, tema da conversa de Aécio com FHC, semana passada, e de Aécio com o próprio Serra, talvez ainda nesta terça-feira. Por esse cronograma, o novo presidente do PSDB seria eleito em novembro. Em janeiro os tucanos voltariam a conversar para definir um "perfil" do candidato, que levaria em conta não só as pesquisas, mas também sua capacidade de compor alianças, para a escolha definitiva do nome do candidato por volta de março. Para a presidência do PSDB, o nome favorito é o do senador Tasso Jereissati (CE), que em 2002 rompeu com candidatura Serra no nascedouro. Os dois se recompuseram, mas os tucanos serristas vêem Tasso mais como um aliado de Alckmin na disputa interna.

Rumo a 2006, PSDB repete erros de 2002

A suposta inabilidade de Serra para tecer alianças também é recorrente a 2002, quando o atual prefeito de São Paulo fez uma opção preferencial pelo PMDB, após oito anos de consórcio tucano-pefelista nos dois mandatos de FHC. Essa será uma questão crucial para o PSDB, sobretudo se Serra e Alckmin deixarem simultaneamente seus cargos, em abril, para disputar as eleições. Ambos seriam substituídos por vices filiados ao PFL. Serra não tem maioria na Câmara, mas tem conseguido reunir apoio para aprovar seus projetos. O governador Aécio Neves admite que sua movimentação recente, como as conversas com Alckmin, FHC e agora Serra, tem como objetivo evitar o aprofundamento do clima de intrigas que começa a contaminar a discussão tucana. Diante da perspectiva real de vitória em 2006, argumenta o governador mineiro, "O PSDB não tem o direito de perder essa oportunidade por questões de suscetibilidades". Aécio defende o adiamento da indicação do nome tucano para março, após muitas consultas. "Até para que o candidato escolhido tenha a força de todos. Ninguém é candidato só porque quer ser candidato", diz. "Se não tivermos nenhum outro em condições de vencer a eleição, é ele (Serra). O estatuto do PSDB prevê a possibilidade de prorrogação do mandato dos dirigentes. Em 2003, os mandato do hoje vereador José Aníbal foi prorrogado, enquanto os tucanos avaliavam melhor a repercussão da chegada do PT ao poder. Em novembro, Serra foi eleito. O presidente em exercício, senador Eduardo Azeredo (MG), poderia reivindicar um mandato novinho em folha, mas foi abalroado pelo escândalo do "valerioduto". Pode no máximo ficar até março, se baixar o "fogo amigo" tucano e o PSDB mantiver a unidade e de fato entrar como um partido nas eleições do próximo ano.