Título: Renan tenta pacificar CPIs e nega acordão
Autor: Caio Junqueira e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Política, p. A6

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ontem em São Paulo que as investigações das CPIs em andamento em Brasília estão ameaçadas pelo que chamou de fogueira de vaidades. Afirmou ainda que a reunião marcada para hoje com os presidentes e relatores dessas comissões tratará sobre esse assunto. "As CPIs estão com problemas e o principal é a fogueira de vaidades. A primeira coisa que nós temos de fazer é evitar esta fogueira, porque isso pode acabar chamuscando a própria investigação, dificultando o esclarecimento. Feito isso, vamos debater a contratação de auditores contábeis, fiscais para ter avanço nas investigações. A população está cansada, o noticiário é intenso e temos que apresentar resultados concretos, provas cabais", afirmou. Renan criticou procedimentos simultâneos e equivalentes adotados pelas comissões, como a convocação dos mesmos depoentes e a falta de análise dos documentos enviados por instituições bancárias. "Não faz absolutamente nenhum sentido que, até a última sexta-feira, as CPIs tenham convocado mais de 220 depoimentos. Se nós tivermos duração média de sete horas, precisaremos de mais de 70 dias ininterruptos só para os depoimentos", disse. De acordo com ele, essa forma de atuar colabora para que a mídia e a Polícia Federal estejam na frente do Congresso nas apurações. Ele negou também a possibilidade de acordo para evitar a cassação de alguns parlamentares e disse que eventuais pressões nesse sentido devem ser punidas. "Se houver pressão de modo a dificultar a investigação e o esclarecimento que se quer, nós vamos punir exemplarmente, dentro do regimento e da legislação vigente. Os parlamentares precisam contar absolutamente tudo dessa pressão. A CPI precisa estar protegida da ameaça da pressão. E essa coisa de acordo, de que não vai haver punição, do ponto de vista do Senado, é uma coisa absurda. Nós não ouvimos falar nisso, nem vamos ouvir". Questionado sobre as declarações do senador, o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), integrante da CPI dos Correios, disse que as vaidades podem aparecer, mas que o importante são os resultados. E achou positivo o fato de a imprensa, segundo ele, estar atuante na crise. "Que bom que a imprensa puxa a CPI. Mas lembro que ele (Renan) apóia um governo que queria amordaçar a imprensa". Hoje, durante a reunião com os presidentes e relatores das comissões, o PFL vai propor a Renan a contratação de empresas nacionais ou internacionais de auditoria para fazer uma análise mais profunda e competente dos documentos já obtidos pelas CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos. No início da noite de ontem, alguns líderes pefelistas se reuniram para enumerar reivindicações de evitar acordos de salvamento de deputados e marcar posição contra a morosidade das investigações até agora. "É razoável que o presidente Renan possa liberar a verba para contratar uma consultoria técnica capaz de examinar os papéis que estão sendo investigados de forma muito devagar por deficiência de estrutura de parlamentares, das assessorias, do tribunal de contas, da Polícia Federal e do Ministério Público", disse o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN). O presidente da CPI dos Bingos, Efraim Moraes, será incumbido de levar a proposição ao encontro de hoje no gabinete de Renan. Ele defende a contratação de três empresas: "Vamos fazer colocar o tema para que possamos ter um avanço da análise da documentação que existe nas três CPIs. A contratação de empresas diferentes para cada uma das comissões para que não haja também acumulação em relação ao trabalho a ser desenvolvido". Os pefelistas querem também uma maior participação de Renan na pressão aos órgãos do governo federal para cumprirem a determinação dos requerimentos de quebras de sigilos aprovados até agora. "O presidente Renan quer dar uma contribuição e deve ir pessoalmente cobrar do Banco do Brasil, do Banco Central e da Anatel o cumprimento dos requerimentos de informação das quebras de sigilo telefônico e bancário. É fundamental que as informações venham mais rápido", pediu Agripino. O partido também vai pedir maior acesso aos documentos obtidos até agora. "Será necessário que cada integrante das comissões possa ter um assessor com acesso aos documentos de cada uma das CPIs para que não haja a possibilidade de acordos. Não admitimos que os trabalhos não cheguem a investigações profundas e punição dos culpados", disse o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Agripino prometeu pressão e ameaçou o governo: "O PFL e os partidos de oposição vão denunciar qualquer tentativa de acordinho ou acordão e, se ele insistir em se concretizar, nós iremos aprofundar a denúncia chegue ela onde chegar, a que escalão alcançar". Agripino pede também o envio direto, pela CPI dos Correios ao Conselho de Ética, dos nomes dos deputados envolvidos com o recebimento dos recursos das empresas de Marcos Valério. Uma parcela dos governistas defende que os nomes sigam para a CPI do Mensalão. "Queremos a remessa da relação dos deputados direto para o Severino. E do Severino direto para o Conselho".