Título: Planalto já esperava desistência
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Política, p. A6

O Palácio do Planalto já esperava a desistência de Tarso Genro na disputa pela presidência do PT pelo Campo Majoritário, nas eleições de setembro. Para assessores próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o importante era que o impasse sobre a escolha do candidato do Campo Majoritário fosse resolvido o mais rápido possível para evitar uma exposição negativa ainda maior do PT com o prosseguimento da disputa entre Tarso Genro e o ex-ministro, deputado José Dirceu. "Tarso Genro foi uma aposta do presidente para tentar resolver a crise do partido e inovar a legenda, mas faltou-lhe jogo político", afirmou um assessor próximo ao presidente. Lula foi avisado pela manhã da desistência de Tarso Genro. Para o Palácio do Planalto, seu perfil era o mais apropriado para a tarefa de reconstrução. Ricardo Berzoini não era a primeira opção, mas é considerado "firme e preparado", apesar de ser muito mais próximo ao ex-ministro, José Dirceu. Nos últimos dias, entretanto, Berzoini tentou se equilibrar entre os dois ex-ministros porque sabia que poderia ser uma saída caso a disputa não fosse resolvida. Apesar de ter sido ministro da Previdência e do Trabalho, no governo Lula, Berzoini não está entre os ministros petistas mais próximos ao presidente. Na semana passada, o próprio presidente pediu a Tasso Genro que se mantivesse na disputa, mas o caminho já tinha se mostrado sem volta quando José Dirceu não desistiu de compor a chapa do Campo Majoritário e o presidente do partido impôs a saída do ex-ministro como condição para se manter na disputa. O prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, que na semana passada articulou uma reunião dos prefeitos petistas para pedir a Tarso Genro que permanecesse na disputa, lamentou a decisão do ex-ministro da Educação. "É um fato muito negativo para o partido e para o Campo Majoritário. O simbolismo político da decisão é muito ruim. Na verdade, o Campo não funciona mais na estrutura exigida para promover as mudanças necessárias", afirmou o prefeito. Para ele, o ideal seria o adiamento das eleições do PT, o que não é aceito pelas correntes de esquerda. "Berzoini tem tido posições idênticas a Tasso Genro e votarei nele. Mas cada vez me sinto menos representado pelo Campo Majoritário", lamentou o prefeito. Déda ainda não definiu se irá integrar o Diretório. O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, e o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, foram designados por Lula na semana passada para tentar convencer Tarso Genro a se manter na disputa. O presidente, no entanto, pediu discrição na ação de seus auxiliares para não passar a impressão de interferência no PT. O presidente Lula também decidiu aumentar a divulgação das ações do governo nas investigações do escândalo do mensalão. Ontem, durante a reunião com os ministros da Coordenação de Governo (Casa Civil, Fazenda, Relações Institucionais, Justiça, Secretaria Geral e Integração Nacional), pediu ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a elaboração de um relatório sobre todas as ações da Polícia Federal no caso. A lista das investigações tem sido constantemente citada nos últimos discursos do presidente e é considerada no governo uma das âncoras do Palácio nesta crise. A PF já abriu inquéritos para apurar desvios Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Furnas, Correios e operações do empresário Marcos Valério. A PF está investigando uma tonelada de documentos em Brasília, Belo Horizonte, São Paulo e Rio. Os delegados também já pediram a prisão de nove pessoas envolvidas no caso, entre eles, Marcos Valério. Mas a Justiça negou o pedido.