Título: Para Tarso, ruptura com núcleo dirigente ficou inviável
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Política, p. A6

Insatisfeito com a insistência do deputado José Dirceu em permanecer na chapa do Campo Majoritário que disputa o processo de eleição direta (PED) para a direção do PT no próximo dia 18, o presidente interino do partido, o ex-ministro da Educação Tarso Genro, renunciou ontem da candidatura ao cargo depois que uma última rodada de consultas realizada a seu pedido no fim de semana pelo coordenador da chapa, Francisco Rocha da Silva, indicou que não haveria modificações na composição do grupo capaz de simbolizar "uma ruptura com o núcleo dirigente anterior", afirmou. "A opção que foi feita pela maioria é legítima, mas não coincide com a minha visão de uma ruptura necessária para um novo pacto dirigente que renove as relações internas, que tenha respeito maior às minorias, estabeleça um diálogo de qualidade com todas as posições do partido e que produza as suas posições pela capacidade de fundamentação e de persuasão e não somente por uma maioria quantitativa", explicou. Ele disse ainda que irá cumprir o mandato até a posse do novo presidente e que deixar a condição de candidato não lhe retira "um milímetro" sequer de ânimo para lutar pela "refundação" do PT. O ex-ministro garantiu que assim que deixar o cargo iniciará um "movimento político" para agregar "todas as pessoas", independente das correntes a que pertençam, interessadas em construir uma "nova cultura política" no partido e vincular a política de alianças para um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à transição para um "novo modelo de desenvolvimento", capaz de promover uma redução "drástica" das desigualdades sociais. De acordo com Tarso, enquanto estava no governo as discussões que ele travou a respeito da política econômica respeitaram os limites impostos pelo presidente da República porque "nunca fui um ministro metido a rebelde". O ex-ministro também afirmou também que, mesmo fora da disputa pela presidência nacional do PT, a eventual candidatura ao governo do Rio Grande do Sul em 2006 não faz parte de seus planos . Sem negar "peremptoriamente" a possibilidade, disse que pensar em sucessão estadual agora significaria colocar os interesses pessoais ou de correntes "acima dos interesses do partido". Para Tarso, Dirceu tem o direito de permanecer na chapa do Campo Majoritário, mas a afirmação do deputado, de que preferira dar "um tiro na cabeça" a deixar o grupo, foi uma "metáfora nervosa". "O José Dirceu tem reações muito emocionais às vezes, que no fundo sinalizam um tipo de relação que mantém com o sistema de poder do partido", disse. O presidente interino do PT chegou a afirmar que seria "muito pequeno" utilizar "determinados mecanismos do partido para nos proteger pessoalmente", mas depois preferiu não comentar se fazia uma alusão direta a Dirceu porque não pretendia extrapolar para o terreno pessoal o "conflito político muito expressivo" que existe entre ambos. Tarso não abriu o próprio voto, mas declarou ter "enorme simpatia" por seu substituto na candidatura à presidência do PT, Ricardo Berzoini, embora ele não tenha a mesma opinião sobre a necessidade de mudanças na chapa do Campo Majoritário para configurar a transição interna. "Berzoini é uma pessoa extremamente honesta, politicamente fiel e correta". Para o presidente interino, mesmo com a manutenção da "hegemonia anterior" no partido, o PT "vai se recuperar e indicar os responsáveis pelos erros políticos" que o levaram à crise atual, mas o processo será mais "lento".