Título: Berzoini disputará pelo Campo Majoritário
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Política, p. A6

Crise Secretário-geral mantém críticas à política econômica, mas suaviza em relação a José Dirceu

Sem grandes mudanças ou rupturas radicais com o projeto vigente no PT e comandado pelo ex-ministro José Dirceu, o deputado e secretário geral da legenda, Ricardo Berzoini, assume a candidatura para as eleições internas do partido. No lugar de Tarso Genro, que desistiu ontem de sua candidatura, entra um petista mais alinhado à ordem estabelecida. Os discursos são diferentes: no lugar da "refundação do partido", proposto por Tarso, entra a proposta de "mudança de procedimentos e de métodos". As críticas à política econômica também são diluídas: em vez de mudanças, aceitação e elogios. O nome de Berzoini parece menos problemático aos comandos de Dirceu. Longe do ultimato dado por Tarso na semana passada, em que afirmou que para continuar candidato pelo campo que comanda o partido, o ex-ministro da Casa Civil deveria sair da chapa, Berzoini foi suave: "Seria melhor que (Dirceu) retirasse o nome da chapa, mas nunca coloquei como condição e é uma decisão que a chapa deve tomar." Minutos depois do anúncio da desistência de Tarso, Berzoini concedeu uma coletiva na sede nacional do partido, em São Paulo, disse não ser candidato por "reivindicação, mas por uma contingência". Em seguida, pediu o apoio do presidente do PT: "Me sinto à vontade para reivindicar o apoio de Tarso. Espero poder convencê-lo", afirmou, depois de dizer que tem afinidade de pensamento com Tarso e que concorda com 90% das ações e pensamentos do presidente da legenda. "Os outros 10% são imperceptíveis." Mas as diferenças no discurso são notáveis: "Concordo integralmente com os fundamentos da política econômica", disse Berzoini, no lugar das críticas de Tarso e do restante do partido fora do campo majoritário. "O Brasil precisa ter superávit primário, precisa tomar cuidado com a inflação porque temos uma cultura inflacionária forte no Brasil, precisa ter carinho com as contas externas". Berzoini considera que a execução orçamentária "não precisa ser tão cautelosa" e que a "meta de inflação é muito justa, muito apertada e exigiu a política monetária muito dura". Por fim, resumiu: "Podemos e devemos crescer mais. Não tenho divergência de fundo com a política econômica e sim de foco. Tem que ser debatida amigavelmente com o governo." As semelhanças aparecem quando o assunto é a punição dos petistas envolvidos em denúncias de corrupção. "Os envolvidos serão punidos com rigor", defendeu. "Não se pode confundir o campo majoritário com o que duas, três, quatro pessoas fizeram. Seria um erro, como seria um erro dizer de um partido que tem uma pessoa envolvida em um crime que é o partido do crime." Dentro do partido a mudança de candidatos não foi vista com bons olhos. "São os mortos comandando os vivos", disse o secretário de Formação política do partido, Joaquim Soreano, referindo-se às ações de Dirceu. "Enquanto o campo majoritário for majoritário no PT, esses problemas vão continuar acontecendo", analisou o terceiro vice presidente do partido, Valter Pomar. "O grande erro é querer fazer uma renovação conservadora", disse Pomar, também candidato. Sexta-feira o campo majoritário reúne-se em São Paulo para votar sobre o destino dos parlamentares petistas citados na lista de Marcos Valério, inclusive José Dirceu. Na cédula de votação secreta dos 153 membros da chapa terá a opção para o desligamento dos citados. No sábado, o Diretório Nacional reúne-se em Brasília para discutir o afastamento do ex-tesoureiro Delúbio Soares, que deverá ser encaminhada pelo conselho de ética do partido.