Título: Renan enfrenta platéia hostil ao desarmamento
Autor: Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Política, p. A10

O presidente do Senado e da Frente Brasil Sem Armas, Renan Calheiros (PMDB-AL), enfrentou ontem em São Paulo o que talvez tenha sido o primeiro acalorado debate sobre o referendo popular de 23 de outubro, no qual a população decidirá pela proibição ou não da comercialização de armas de fogo no Brasil. Renan debateu o tema com o ex-governador do Piauí, Hugo Napoleão (PFL-PI), e os deputados Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP) e Onyx Lorenzoni (PFL-RS) - integrantes da frente parlamentar que faz a campanha pela permissão do comércio. Enquanto expunha suas opiniões sobre o assunto, o senador alagoano foi interrompido diversas vezes em razão de manifestações da platéia de cerca de 60 empresários que estiveram no auditório da Fecomercio e discordavam de sua posição pró-desarmamento. Em uma dessas ocasiões, Renan dizia que, ao seu ver, é maior a probabilidade de um cidadão ser morto se estiver armado. "Em um assalto, se o bandido percebe que a vítima está armada...", disse, quando foi prontamente interrompido por um integrante da platéia: "Ele (bandido) não assalta". Ao que o senador respondeu: "Não sei se o senhor tem essa experiência, mas, se tiver, vou catalogá-la aqui nos meus casos, porque é uma exceção". Em seguida, Renan continuou expondo seus argumentos enquanto integrantes da platéia se indignavam em alto tom. O senador pediu respeito. "Balançar a cabeça negativamente é muito fácil, quero que vocês argumentem comigo respeitosamente". Adotando a linha de que o Estatuto do Desarmamento já prevê a proibição das armas de fogo no país, Fleury classificou o referendo de "inútil e extemporâneo". Renan rebateu e afirmou que, de fato, o Estatuto faz essa previsão. Ao que, mais uma vez, um integrante interveio em voz alta: "Por que vai fazer o referendo então?" Fleury tomou, então, a palavra e acusou o senador de querer "fraudar o referendo e a vontade popular". A platéia aplaudiu. Renan, tenso, aumentou o tom: "Estou aqui enfrentando uma claque que praticamente se manifesta a toda hora". O mediador do debate, empresário Carlos Eduardo Moreira Ferreira, que fez parte da mesa do debate junto com o presidente da Fecomercio, Abram Szajman, solicitou que o público não se manifestasse. Em seguida, Onyx Lorenzoni fez uma alusão à participação de Renan no governo do o ex-presidente Fernando Collor de Melo. "Fico impressionado em submeter um referendo que possa mudar um Estatuto. Talvez por essa razão o Brasil conheceu a República de Alagoas de ontem e a República do mensalão de hoje". Renan, após ouvir do deputado que as fronteiras de seu Estado, o Rio Grande do Sul, foram conquistadas a patas de cavalo e armas e que só estava ali porque não morreu em um assalto por estar armado, defendeu-se. "Nos dois casos que o senhor citou, eu acho que fiz a minha parte. No primeiro (escândalos da era Collor), fui para a CPI como depoente fazer a minha parte. E agora fiz de tudo para que as comissões fossem instaladas". Convidados para o debate, o senador Romeu Tuma (PFL-SP) e o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que fazem parte da mesma frente que Renan, não compareceram ao evento.