Título: PSDB já discute chapa puro-sangue
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Política, p. A10

Crise Ex-presidente diz que, apesar de não ser candidato, é o tucano mais temido pelo governo

A disputa pelo eleitorado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2006 que está desiludido com o governo já acirra as divergências dentro do PSDB, coloca o PFL em compasso de espera, movimenta os partidos menores de esquerda e atrasa a definição do quadro sucessório. As diferenças foram explicitadas ontem, durante a reunião do "Clube de Roma", um fórum internacional de debates realizado na sede da Fiesp, em São Paulo. De acordo com o ex-ministro da Fazenda e membro do Diretório Nacional tucano Luiz Carlos Bresser Pereira, o PSDB deve evitar uma aliança com o PFL no próximo ano e concorrer com uma chapa unipartidária para presidente e vice, como forma de captar o voto dos lulistas desiludidos. "O partido deve fazer seus acordos depois das eleições, e não antes e o vice deve ser tucano. Alguém tem que ocupar o espaço da centro-esquerda", disse. Na avaliação do ex-ministro, "mantido o ritmo de desgaste do presidente e de novas denúncias, o impeachment é provável", e que neste quadro haverá uma grande massa de eleitores a ser conquistada neste espectro. "O impeachment não é conveniente para a oposição ou para o mercado, mas será decidido pela dinâmica de desilusão da sociedade com o atual governo. O que parece concreto é que a oposição deve vencer no próximo ano". Bresser é vinculado ao grupo tucano que gravita entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o prefeito de São Paulo, José Serra, ambos presidenciáveis. Também possível postulante em 2006, o governador paulista Geraldo Alckmin vai na direção oposta. "Não devemos ter reforma política este ano e com o quadro multipartidário que temos, há um grande problema de governabilidade. É mais legítimo fazer uma aliança antes do que depois", disse o governador. A aliança com o PFL foi feita por Alckmin, Serra e Fernando Henrique nas últimas eleições a que os três concorreram. Para Alckmin, a disputa pelo eleitor desiludido de Lula não se dará em bases ideológicas. "O PT no poder está fazendo uma política de extrema-direita. A medida do PT de superávit primário e de juros é muito maior do que a medida que foi aplicada pelo PSDB. Portanto para o eleitor esta coisa de esquerda e de direita é como a rosa dos ventos para o marinheiro", afirmou. Também presente no encontro, Fernando Henrique preferiu manter-se no ataque em relação ao presidente Lula e não comentou futuras alianças. "Não sou candidato, embora o PT pareça ter mais medo de mim do que de todo mundo. Estou em outra fase da vida", disse. O ex-presidente afirmou que o PT não está liquidado. "Não estamos em uma circunstância pré-eleitoral. O PT fez um estrago nele mesmo e no governo e agora estamos tentando limitar estes danos. Quem sabe eles consigam ainda tomar um rumo que seja mais aceitável dentro do PT. O Brasil precisa de um partido com história, o PT tem história e eles que pelo amor de Deus façam um esforço para salvar o próprio passado", disse. Fernando Henrique ponderou contudo que a crise não pode ser minimizada. "Falam que não há provas, mas confissões como as que já tivemos são mais do que prova, são tudo. O que mais querem? que deixem por escrito?", disse, definido o que foi apurado até agora pelas investigações no Congresso como "um sistema permanente de desvio de dinheiro". A auto-proclamada falta de apetite do ex-presidente em entrar na sucessão foi colocada em questão de forma jocosa por Alckmin durante o evento. Ao apresentar o ex-presidente a platéia, afirmou que Fernando Henrique era duas vezes presidente da República, "por enquanto". Vice-presidente durante o governo Fernando Henrique, o senador Marco Maciel (PFL-PE) concluiu que a crise do petismo paralisou o processo sucessório e de discussão de alianças. "Esta situação que vivemos prorrogou por mais uns meses o início da sucessão, e não adiantou o calendário, como muitos pensam. Há três meses, a questão sucessória estava na pauta e agora deixou de ser o problema número um", afirmou. O pefelista afirmou que a crise de Lula aumentou o leque de cenários para a eleição presidencial e diminuiu as chances de aprovação de uma reforma política, embora o presidente do partido, Jorge Bornhausen, tenha apresentado um projeto de reforma da lei eleitoral. "Em momento de grave crise, a reforma política pode ser marcada pelo casuísmo. Precisaríamos de um clima de estabilidade para fazê-la". O PFL apresentou o prefeito do Rio, Cesar Maia, como pré-candidato, mas teria ganhos imediatos caso fechasse uma coligação com o PSDB. Além da vaga de vice na chapa, poderia ainda ganhar a prefeitura de São Paulo, caso Serra se desincompatibilizasse, ou o governo do Estado, se o tucano candidato fosse Alckmin. Tanto em um caso como em outro, possui a filiação partidária dos vices. "Não temos vetos a ninguém, mas estamos correndo por fora com o Cesar Maia. De concreto, a única coisa que já temos desta crise é que a geração de sindicalistas de esquerda na política acabou", disse o vice-governador Cláudio Lembo. Também mirando o antigo eleitorado de Lula, o senador Cristovam Buarque (PT-DF) reeditou a sua promessa de deixar o partido nos próximos dias. "Saber para onde vão os votos dos que acreditaram em Lula em 2002 é a grande questão do momento. Eu vou fazer força para que vão para um campo novo, que poderá reunir o PPS, o PDT e o PV", disse, sem negar que poderá se colocar como candidato. "Não estou preocupado com nomes, mas em criar alternativas em um cenário dividido entre os candidatos da desesperança, da falta de pé no chão ou do populismo", disse. Se concretizar sua migração, Cristovam disputará a condição de presidenciável com o senador Jefferson Péres (PDT-AM) e o presidente do PPS, Roberto Freire.