Título: BNDES quer incentivar máquinas nacionais feitas por encomenda
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2005, Especial, p. A16

Desenvolvimento Banco estuda flexibilizar e ampliar linha de crédito para grandes projetos de investimento

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está estudando flexibilizar as condições de financiamento de sua linha de concorrência internacional para ampliar a participação da indústria nacional de equipamentos nas encomendas dos grandes projetos que estão sendo implementados no país, principalmente nas áreas de siderurgia, papel e celulose e petroquímica. A medida deve contemplar aumento da participação do banco nestes empréstimos, de 80% para até 100%, redução dos juros de 2% para 1% ou até menos, dependendo das condições apresentadas pelas empresas estrangeiras nas licitações promovidas no país, mantendo os mesmos indicadores (TJLP, dólar ou cesta de moedas e Libor). Também pretende equalizar os prazos de financiamento aos dos concorrentes externos. A mudança inclui o financiamento de pacotes fechados de montagem industrial no país, que casam fornecimento de bens de capital, projeto de engenharia, obras civis e todo serviço associado ao fornecimento do equipamento, disse ao Valor, Haroldo Prates, chefe do departamento de indústria pesada do banco. Hoje, a linha de concorrência internacional tem juro de 2% e financiamento que varia de oito a 15 anos, mas não financia pacotes fechados ("turn key"). No caso de compra exclusiva de bens de capital sob encomenda sem concorrência, o banco financia o tomador através da Finame, ou seja, empréstimo indireto via agente financeiro. O custo desse crédito é de TJLP (9,75%), juro de 4%, além do spread do agente financeiro. Foto: Leo Pinheiro/Valor

Haroldo Prates, do BNDES: mudança vai incluir o financiamento de pacotes fechados de montagem industrial

A proposta de aperfeiçoamento da linha de concorrência internacional, desenhada por um grupo de trabalho da área técnica do banco está para ser encaminhada à diretoria no curto prazo. Segundo Prates, o que o BNDES pretende com essa alterações é maximizar a nacionalização dos fornecimentos de produtos para montagem industrial. Apesar de contar hoje com um potencial de projetos de investimento de R$ 60 bilhões, a carteira de bens de capital sob encomenda no banco está à míngua porque as importações desses bens têm aumentado muito, com os chineses avançando em todo tipo de equipamento. Newton de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), adiantou que o Brasil produz 60% do que consome de bens de capital e 40% vem de importações, percentual que pode aumentar. Ele acha que importações "perversas" como a de injetores plásticos da China, com prática de subfaturamento, deveriam ser coibidas através de ações da Receita Federal. No caso de equipamentos de grande porte, reconhece que não existe contrabando, mas o preço internacional é muito baixo. Nesse caso, avalia que boas condições de financiamento do BNDES podem ajudar a "bater a questão de preço". Não é a opinião de Roberto Araújo, gerente da SMS Demag, subsidiária alemã que produz equipamentos para o setor siderúrgico. "Eu diria que essa linha não é determinante. É claro que o custo do financiamento pesa na hora do investidor tomar a decisão. Mas, no momento, não é a proposta financeira que está nos levando a perder concorrências. É o preço do equipamento em si." Para o executivo, com uma diferença próxima de 50%, como aconteceu no caso da concorrência da Gerdau Açominas para comprar um alto-forno, planta de sinterização e coqueria, que os chineses venceram, não há financiamento que reverta uma condição dessa, nem com juros negativos, dada a diferença brutal de preço. "A China é uma caixa preta", disse Araújo. Conforme seu relato, a opção da Gerdau pela proposta dos chineses, em concorrência ocorrida no início do ano, "acendeu a luz vermelha" da indústria de bens de capital instalada no país. A SMS Demag disputou o negócio junto com europeus e os chineses. "Ninguém punha fé que eles ganhariam, pois as empresas da China não têm histórico de participar em concorrências internacionais. Mas o preço deles foi muito baixo. A média dos outros concorrentes era pouco acima de US$ 400 milhões, enquanto o que se diz é que os chineses ofereceram US$ 250 milhões e a Gerdau resolveu arriscar, aceitando a proposta deles", contou.