Título: IGP-M acumula deflação de 1,64% em 4 meses
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Preços no atacado e no varejo recuam, e analistas apostam em indicador abaixo de 2% em 2005

O cenário para a inflação continua muito favorável: o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) fechou agosto em queda de 0,65%, em deflação pelo quarto mês seguido. Os analistas esperavam algo entre -0,4% e -0,6%. Os preços agrícolas e industriais no atacado mostraram nova variação negativa, acompanhada dessa vez por recuo nas cotações ao consumidor. A queda dos preços de alimentos, o tombo das cotações dos produtos siderúrgicos e o câmbio valorizado foram decisivos para o bom desempenho do IGP-M, que acumula alta de 0,75% no ano. Entre maio e agosto, o indicador caiu 1,64%, aumentando a possibilidade de terminar 2005 com variação inferior a 2% - para setembro, os analistas esperam mais deflação. Apurado desde 1989 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o IGP-M, que mede o comportamento dos preços entre o dia 21 do mês anterior e o dia 20 do mês de referência, nunca havia registrado quatro deflações mensais seguidas. Em 2003, o indicador caiu em maio, junho e julho, acumulando queda de 1,67% no período, movimento influenciado pela valorização do câmbio e pelo forte desaquecimento da atividade econômica. Para o coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros, uma das grandes diferenças é que a deflação atual ocorre num cenário de crescimento da economia, ainda que a um ritmo inferior ao do ano passado. O dólar barato, segundo ele, também é fundamental para explicar o recuo dos IGPs, embora o impacto do câmbio não seja tão forte como há alguns meses. Em agosto, por exemplo, alguns "fatores setoriais" foram cruciais para explicar o tombo dos preços no atacado, afirma Quadros, ressaltando a queda de 2,76% do grupo ferro, aço e derivados, a menor desde 1994. O IPA, que responde por 60% do IGP-M, recuou 0,88% em agosto. O recuo mais forte foi dos preços agrícolas, de 1,59%. Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, destaca a queda de 4,02% do grupo cereais e grãos, "refletindo o impacto da valorização do câmbio e das menores cotações observadas no mercado internacional". O segmento lavouras para exportação caiu 3,23% e o feijão, 13,6%. Os preços industriais no atacado, por sua vez, recuaram 0,65%. Assim como Quadros, Fenolio ressalta o tombo de 2,76% do grupo ferro, aço e derivados, para ele uma conseqüência da queda cotações do aço no mercado externo, que já atinge 18,4% no ano. O economista lembra ainda que produtos como chapas galvanizadas e chapas finas de aço também caíram com força. Para Fenolio, isso é um bom sinal, pois deve levar a "efeitos secundários de grande importância sobre a inflação nos próximos meses, seja no atacado - uma vez que os grupos mecânica e material de transporte são grandes usuários de aço - seja ao consumidor, como automóveis e eletrodomésticos". As seguidas deflações no atacado melhoram as perspectivas para os índices de preços ao consumidor nos próximos meses, como afirma Adriano Lopes, do Unibanco. "Acho que seria leviano acreditar que não haverá repasse dessa queda de preços para o varejo", afirma ele, considerando possível um IGP-M abaixo de 2% em 2005, que seria o mais baixo desde a adoção do câmbio flutuante, em 1999, e o menor desde o 1,7% registrado em 1998. Naquele ano, aliás, o IGP-DI - e não o IGP-M - teve deflação por cinco meses seguidos. O IPC, com peso de 30% no IGP-M, caiu 0,32% em agosto. Fenolio diz que a queda se deve principalmente ao recuo dos preços dos alimentos, de 1,34%, e da tarifa de eletricidade residencial, de 1,06%. Esse item caiu, segundo Quadros, devido à redução das tarifas em São Paulo e do valor do seguro-apagão. Para setembro, Fenolio e Lopes esperam nova deflação do IGP-M, embora menos intensa que em agosto. Os preços agrícolas devem continuar em queda, e o varejo tende a refletir as deflações registradas no atacado nos últimos meses. Nesse cenário, há espaço para o BC começar a reduzir os juros em setembro. A aposta é num corte de 0,25 a 0,5 ponto percentual. O Índice Nacional dos Custos da Construção (INCC), que tem peso de 10% no IGP-M, também mostrou um comportamento favorável, com alta de 0,05%.