Título: Para Rogoff, Brasil poderia crescer 7% ao ano
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Brasil, p. A3

A economia brasileira deveria estar crescendo a taxas mais robustas na avaliação do economista Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard. "São tempos extraordinariamente benignos que estamos observando no cenário da economia mundial, o Brasil deveria estar crescendo a taxas de 6% a 7% ao ano nesse cenário, é um país que tem grandes vantagens naturais e potencial para crescer mais rápido", afirmou Rogoff, que participou ontem, no Rio, do "VI Seminário Metas para a Inflação", promovido pelo Banco Central. O economista lembrou que o Brasil tem as taxas de juros mais altas do mundo e que o juro real este ano está no patamar de 12%, mas advertiu que não se pode cair no discurso simplista de que o corte de taxas de juro será o grande motor do crescimento sustentado, que o Brasil ainda não alcançou como deveria, na avaliação dele. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anfitrião do encontro, endossou as palavras de Rogoff e afirmou que não existe "solução mágica" para a economia brasileira, e que a redução de juros sozinha não é capaz de resolver os problemas da economia do país. A questão, na visão de Rogoff, é que o Brasil ainda tem alguns indicadores que não são bons na comparação com outros países emergentes. Ele citou como exemplos o percentual do crédito em relação ao PIB, no patamar de 28%; e da relação dívida/PIB, que está no patamar de 50%. Ele lembrou que, no Chile, o crédito já responde por mais de 60% do PIB e afirmou que o Brasil precisaria reduzir muito a dívida como percentual do PIB. "A dívida externa em relação ao PIB está próximo dos níveis de grau de investimento, mas a dívida pública é muito alta ainda. Num estudo recente, projetei que dado o histórico do país, uma relação dívida/ PIB segura para o Brasil seria de 30%, muito menor do que o patamar atual", afirmou. Na avaliação do economista , o governo Lula e o anterior iniciaram a agenda de reformas com um ritmo razoável, que deve ser acelerado para que o país obtenha melhores resultados. "A primeira e mais fácil de ser implantada é a independência do Banco Central, este é um ponto essencial", defendeu Rogoff. Para ele, o país precisa ainda promover uma abertura maior da economia brasileira, reduzir o tamanho do Estado e a carga tributária, além de fazer a reforma trabalhista e dar continuidade à agenda microeconômica, que para ele, vai gerar efeitos positivos a longo prazo. Segundo Rogoff, além da relação dívida/ PIB, o histórico de não-pagamentos e de inflação alta no passado ainda pesam sobre a avaliação do país. "Além disso, essa memória prejudica a poupança interna", disse. Para o presidente do BC, o economista deu 'mensagens importantes'. "Não há solução mágica, temos que persistir, trabalhar, fazer reformas fundamentais, abrir a economia e ter uma inflação convergindo para as metas de forma consistente, com redução da relação dívida/PIB. Assim o Brasil vai aumentando sua taxa de crescimento e reduzindo a taxa de juros", disse Meirelles. Segundo ele, os juros só podem cair quando a trajetória para a inflação está compatível com as metas por um período consistente. "O caminho para a queda da taxa de juros passa por inflações compatíveis com a trajetória de metas por um período de tempo consistente", disse. (Com agências noticiosas)