Título: Fiesp reclama de "ultimato" dado pelo MDIC sobre China
Autor: Raquel Landim e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Brasil, p. A4

Relações externas Ministério avisa que 5 setores já municiaram o governo

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) informou ontem que não aceita o "ultimato" do governo nas negociações de um acordo de restrição voluntária das importações de produtos chineses. A entidade disse que falta comunicação com o setor privado e reclamou do atraso na regulamentação das salvaguardas contra a China. Ontem, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, discutiu o assunto com o ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento. Em nota divulgada ontem, a Fiesp classifica como "ultimato" o prazo, que expirou na segunda-feira, para que os setores industriais entregassem ao governo os dados que comprovem as perdas provocadas pela importação de produtos chineses. O prazo foi divulgado pelo secretário-interino de Comércio Exterior, Armando Meziat, na sexta-feira em entrevista ao Valor. Furlan viaja para Pequim na segunda quinzena de setembro para discutir com o ministro do Comércio da China, Bo Xilai, um acordo de autolimitação das exportações chinesas para o Brasil. A visita de Furlan será precedida de uma missão técnica, liderada por Meziat. Segundo o presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, Rubens Barbosa, a entidade está reagindo à maneira como o governo informou sua decisão. "Tomamos conhecimento pela imprensa de decisões importantes que afetam as negociações", disse. Barbosa explicou que a Fiesp tem "dúvidas" sobre a eficácia de um acordo de autolimitação das exportações chinesas, já que o país asiático descumpriu acerto similar fechado com a União Européia. "A China preocupa. Dois anos atrás tínhamos um pequeno superávit na balança comercial da indústria. Neste ano, o déficit vai ficar acima dos US$ 3 bilhões", disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, advertindo que a China pratica descaminho e outras práticas ilegais de comércio. "Já fomos contrariados com o reconhecimento da China como economia de mercado. Depois, tivemos um desgaste muito grande com relação às salvaguardas. A aprovação delas foi muito demorada na Camex e até hoje sua regulamentação não foi publicada. Portanto, não sabemos como usar essas salvaguardas", criticou Skaf. De acordo com a assessoria de imprensa do MDIC, os setores industriais começaram a enviar os dados que comprovam os danos provocados pela importação de produtos chineses em 20 de maio, quando o governo anunciou que regulamentaria as salvaguardas contra a China. Os estudos que baseiam a salvaguarda e o acordo de restrição voluntária são semelhantes. Segundo o MDIC, já entregaram dados os setores de cerâmica, brinquedos, calçados, auto-falantes e máquinas e equipamentos. A assessoria do órgão informou ainda que Meziat esteve na Fiesp no dia 10 de agosto e informou que o governo estava negociando um acordo de autolimitação das importações de produtos chineses. O MDIC salientou, no entanto, que os setores que se sentirem prejudicados pelos produtos chineses ainda podem enviar os dados para o governo. Heitor Klein, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), disse que entregou ontem ao governo informações sobre fluxo de comércio, produção e vendas de calçados no Brasil. A entidade decidiu pedir proteção para todos os tipos de sapatos com o argumento de que a classificação tarifária brasileira é genérica e os chineses podem facilmente "migrar" de um tipo de calçado para outro. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) entregou ao governo na segunda-feira os dados que demonstram as perdas provocadas pelas importações chinesas de 13 tipos de máquinas, como injetoras plásticas, correntes industriais e prensas mecânicas de grande porte.