Título: Parlamentares acusam Severino de prejudicar imagem do Congresso
Autor: Raymundo Costa e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Política, p. A6

Uma tentativa do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) para afastar a suspeita de que esteja no comando de uma operação-abafa terminou ontem em bate-boca no plenário e a ameaça do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) de iniciar um movimento para retirá-lo da presidência da Câmara dos Deputados. Gabeira disse que a atuação de Severino é "indigna do cargo" e está "em contradição com o Brasil". Irritado, Severino limitou-se a responder: "Recolha-se a sua insignificância, não aceito suas palavras". O início dos processos por quebra de decoro parlamentar, com o pedido formal de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) no Conselho de Ética, aumentou o clima de tensão na Câmara, como demonstra o incidente de ontem. O comportamento de Severino Cavalcanti, que assumiu a tese segundo a qual não está provada a existência de mensalão, que o caixa 2 eleitoral é uma infração menor e que as penas devem ser aplicadas de acordo com a gravidade do delito provocou forte reação dos congressistas. No Senado, o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) afirmou ontem "não é papel do Congresso Nacional proteger culpados". A pressão pela punição a parlamentares, acrescentou, virá sobretudo da opinião pública, o que o leva a crer que acordos e protelações são inviáveis. Segundo Calheiros, nunca na história brasileira houve um período com tantas apurações. "Estamos exercendo na plenitude nossas obrigações constitucionais", afirmou. O senador disse ainda que há uma "ânsia de se chegar rapidamente às verdades". Na Câmara, Severino sentiu-se na obrigação de dar explicação e leu uma extensa nota oficial. "Enganam-se aqueles que pensam que deixarei levar inocentes ao cadafalso, apenas para, ao desvario, ouvir soar as trombetas". Como já fizera em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", Severino voltou a tentar envolver o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na crise. Em 1997, disse o deputado, fez um relatório sobre a denúncia de compra de votos para aprovar a emenda da reeleição no qual apontou também "a prática de crime de corrupção por parte dos corruptores". E afirmou: "Digo que não existe comprador sem que exista vendedor". O presidente da Câmara reafirmou que não tem como enviar relatórios das CPIs diretamente para o Conselho de Ética. Isso, de acordo com o regimento, só pode ser feito pela Mesa da Câmara ou por representação de partido político. Imediatamente o PFL reagiu e informou que está disposto a encampar as representações da CPI. Reunida, a Executiva Nacional do PPS decidiu que também fará representação contra os nomes indicados pelas CPIs. O presidente da sigla, deputado Roberto Freire (PE), chegou a classificar de "leviano" o comportamento de Severino. "A única postura a ser adotada pelo presidente da Câmara é a de magistrado, de isenção". A nota de Severino tem um final grandiloqüente: "Pois saibam todos: enquanto eu estiver aqui, esta Casa terá comando, será uma Casa soberana, que saberá afastar com a presteza adequada as nuvens cinzentas que sobre ela momentaneamente pairam, para ver romper a aurora de um novo tempo". Não convenceu. Antes da intervenção de Gabeira, o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), afirmou que Severino deveria separar o cidadão e o deputado do presidente da Câmara: os dois primeiros teriam opinião pessoal, mas o último é "porta-voz" da Câmara. "Nós todos estamos sendo execrados, a Câmara está colocada numa vala comum", disse, para em seguida afirmar que as posições de Severino "passam à sociedade a idéia que todos nós não queremos punir". Severino reagiu dizendo que apenas "acreditei no correligionário" de Aleluia, ao dizer que não ficara provado o mensalão. O correligionário em questão, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), afirmou em seguida que seu voto pedindo a cassação de Roberto Jefferson, no qual diz não ter sido provado o mensalão, fora proferido depois das 19h30, enquanto Severino falara às 16h. A reação às interpretações de Severino atravessou o corredor que separa a Câmara do Senado. Além de Renan Calheiros, também o líder do PFL, José Agripino Maia (RN), a protestar na tribuna: "São prejulgamentos inconvenientes e intempestivos". O presidente da Câmara tem que agir como magistrado. O Congresso Nacional deve ser isento, mas absolutamente imperativo e altivo. Tem que colaborar com todas as investigações", afirmou. Agripino afirmou que as declarações de Severino lhe causaram "desalento". Para Agripino, "quem decidirá se houve ou não houve mensalão não é o presidente da Câmara, mas as devidas instâncias de investigação". Na Câmara, o deputado Vladimir Costa (PMDB-PA) atacou Gabeira: "Quem é Gabeira para criticar Severino? É aquele que defendeu a legalização dessa erva maldita".