Título: Mercado aquecido
Autor: Lauro Veiga Filho e Genilson Cezar
Fonte: Valor Econômico, 29/10/2004, Embalagem, p. F1

Mesmo com a reação das vendas, as empresas preferem investir em projetos mais ambiciosos só em 2005.

A indústria de embalagens trafega, neste segundo semestre, entre o entusiasmo contido e uma mal disfarçada cautela, depois de atravessar um de seus piores momentos no ano passado, quando a produção e a expedição encolheram, respectivamente, 6,6% e de 3,2% na comparação com 2002, retornando aos níveis de 2000. O cenário mudou para melhor este ano. A produção parou de cair e as vendas voltaram a crescer, mas o setor prefere ainda não dar a largada a projetos mais ambiciosos, reservando os investimentos mais polpudos para o próximo ano, na esperança de que, em 2005, a economia sustente a recuperação iniciada agora. "Acho que vamos ver as coisas acontecendo em 2005", reforça Graham Wallis, sócio-gerente da Datamark, empresa de consultoria especializada no setor de embalagens, que carrega na bagagem 22 anos de experiência nesta área. Por enquanto, diz Wallis, surgiram alguns investimentos nos segmentos de embalagens PET e laminados, alguma coisa na área de bebidas e muito pouco nos setores de vidro, aço, latas e papelão ondulado. "Em algum momento, dada a retomada em curso, essas empresas terão que investir. Até porque, já começaram a planejar esses investimentos", arremata o consultor. A Datamark projeta para este ano um incremento de 5,6% para o mercado de embalagens, o que significaria elevar o volume total expedido ao longo do ano para 6,4 milhões de toneladas, incluindo todos os tipos de materiais, frente a 6,09 milhões de toneladas em 2003. Um avanço fortemente influenciado pela estimativa de crescimento de 13% nas expedições de papelão ondulado - produto que representa um terço do mercado de embalagens. Os materiais flexíveis (filmes puros de polietileno e polipropileno) e plásticos vêm a seguir, com taxas estimadas em 4,1% e 3,6% respectivamente. Na avaliação do vice-presidente da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO) e presidente do grupo Orsa, Sérgio Amoroso, o segmento experimentou uma boa reação até julho, quando a expedição de papelão ondulado chegou a aumentar 26,3% frente ao mesmo mês do ano passado, empurrada pelas exportações recordes de produtos acabados. De lá para cá, o setor embarcou numa onda de calmaria que preocupa o vice-presidente da ABPO. "Outubro deveria ser o pico de vendas da indústria, mas podemos ter surpresas negativas", diz Amoroso. As vendas de papelão ondulado caíram em agosto e setembro, quando comparadas aos meses anteriores, numa retração acumulada de 4,8% desde julho. Em nove meses, a expedição somou 1,57 milhão de toneladas, diante de 1,39 milhão de toneladas entre janeiro e setembro de 2003, num avanço de 13,3%. O desempenho ainda não foi suficiente para repor as perdas verificadas nos primeiros nove meses de 2003, período em que o mercado de papelão ondulado havia encolhido 13,7% frente aos resultados acumulados entre janeiro e setembro de 2002. Até meados do ano, as previsões ano eram desanimadoras --a produção havia registrado um tombo de 4% no primeiro semestre. "Achamos que a retomada seria mais rápida, mas isso não aconteceu. Agora sim, no segundo semestre, a economia engrenou, o mercado está mais aquecido e o setor está otimista. Acredito que temos condições de continuar crescendo", analisa o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Embalagens (Abre), Fábio Mestriner. Com todo o esforço, no entanto, a indústria conseguirá repor as perdas do primeiro semestre e fechar o exercício com uma produção entre magros 0,5% a 1% acima dos números de 2003. O faturamento, no entanto, tende a ser mais robusto, atingindo algo próximo a R$ 26 bilhões neste ano, diante de R$ 23,7 bilhões em 2003 - um avanço de quase 10%. A queda no consumo de alimentos e bebidas, que respondem por 60% da demanda total de embalagens no país, derrubou a produção de embalagens. "Só não foi pior porque as exportações diretas e indiretas e a agroindústria crescem fortemente", pondera Mestriner. Entre janeiro e setembro deste ano, as vendas externas de embalagens vazias acumulavam um crescimento de 13% em relação aos primeiros nove meses do ano passado. A Abre estima, para este ano, um avanço ao redor de 15%, com embarques na faixa de US$ 320 milhões. Na média do setor, o nível de utilização da capacidade instalada saiu de 82,5% em julho do ano passado, de acordo com Mestriner, para 85,6% em igual mês deste ano. O dado, no entanto, não parece suficiente para estimular investimentos de fôlego - pelo menos enquanto persistirem as dúvidas em relação à capacidade de a reação econômica se sustentar a prazos mais longos. "Os indícios, nesse sentido, não são promissores. A política econômica em vigor sinaliza para o desaquecimento da economia, o que não deixa o setor otimista em relação a 2005", contrapõe o vice-presidente da ABPO. "O setor ainda opera com uma certa folga", observa ainda Amoroso. A Orsa Celulose, Papel e Embalagens, uma das empresas do grupo presidido por Amoroso e o segundo maior fabricante nacional de papéis para embalagens, chapas e embalagens de papelão ondulado, executa um pacote de investimentos para reforçar sua posição na produção de fibra (celulose) e papéis para embalagem e na ampliação da área de florestas cultivadas. Entre o segundo semestre deste ano e o primeiro trimestre de 2006, a empresa deverá investir R$ 210 milhões - 60% destinados às áreas de celulose, papel para embalagem e florestas e 40% para tecnologia e modernização. Como resultado daquele pacote, no entanto, apenas a unidade de Rio Verde, no sudoeste de Goiás, será ampliada. A Dixie Toga, uma das maiores indústrias do ramo de embalagens da América Latina, com uma dezena de fábricas instaladas no Brasil e na Argentina, decidiu centrar seus investimentos, por enquanto, no desgargalamento das plantas que hoje operam próximo de seu limite. Segundo Walter Schalka, diretor-presidente do grupo, serão investidos US$ 15 milhões na compra de máquinas e equipamentos ao longo de 2004. "O que não é um valor expressivo para uma empresa que fatura anualmente perto de US$ 350 milhões", completa o executivo.