Título: Autor de saques do PP depõe hoje
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Política, p. A6

A CPI Mista do Mensalão vai ressuscitar, amanhã, um personagem quase oculto da crise: o líder do PP na Câmara, José Janene (PR). Prestará depoimento à CPI João Cláudio Carvalho Genu, ex-assessor e braço direito de Janene, que fez vultosos saques nas contas de empresas de Marcos Valério de Souza no Banco Rural. Em depoimento à Polícia Federal em 29 de julho, Genu confirmou que fazia os saques e levava o dinheiro para o PP. De 17 de setembro de 2003 a 5 de julho de 2004, retirou R$ 4,1 milhões. Conforme denúncia feita pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o líder do PP era um dos principais operadores do suposto esquema de distribuição de recursos a deputados no Congresso. Janene pertence ao partido do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. Em quase todas as conversas nos corredores do Congresso, o nome de Janene é citado como uma espécie de homem-bomba. Com sérios problemas de saúde, o líder do PP já teria confidenciado a parlamentares próximos que, se atingido pela crise, não cairá sozinho. "A informação que circula é que ele (Janene) tem a lista com todos os nomes de parlamentares (do PP) para quem ia o dinheiro", relatou ao Valor um integrante da Corregedoria da Câmara. Nos mais de três meses de crise política, Janene só prestou depoimento à Corregedoria da Câmara. Foi um dos primeiros depoentes. Falou no dia 15 de junho. Na época, não se tinha conhecimento dos saques de Genu nas contas de Valério. Pouco tempo depois, a CPI Mista dos Correios confirmou os saques de assessores e parlamentares nas contas de Valério. A principal argumentação desses políticos é que os recursos foram para quitar dívidas de campanha. Em depoimento à PF, Genu disse que quem cuidava da distribuição do dinheiro era o então tesoureiro do PP, Pedro Ribeiro Barbosa, que morreu no ano passado, em 10 de setembro. A CPI Mista do Mensalão/Compra de Votos aprovou requerimento convocando Janene e outros 17 parlamentares que fizeram saques ou enviaram assessores ao Banco Rural. "Se o nome do Janene constar no relatório que as duas CPIs vão enviar ao presidente da Câmara, aí vamos ter que suspender a convocação dele. Aliás, o Janene está passando imune, assim como outros parlamentares esquecidos", alfinetou a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), membro da comissão. O líder do PP tem evitado aparições no plenário da Câmara. Age discretamente e participa de reuniões reservadas. Outra suspeita que ainda está sendo investigada pela CPI dos Correios é que o líder do PP poderia escolher apadrinhados em estatais - assim como teria feito o deputado Roberto Jefferson - para conseguir verbas à legenda. Um indício disso é que PP e PTB passaram a disputar indicações em estatais, como Correios, IRB e Furnas.