Título: Manobra de ACM leva à convocação de petista
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Política, p. A15

Crise CPI dos Bingos aprova a convocação de amigo de Lula

Em uma manobra inesperada, a CPI dos Bingos aprovou ontem a convocação do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, que assumiu ter pago um empréstimo de R$ 29.436 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o PT. A aprovação do requerimento, de autoria do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ocorreu no exato momento em que os presidentes das três principais comissões de inquérito em funcionamento no Congresso - dos Bingos, dos Correios e do Mensalão - se reuniam para evitar atropelos entre os trabalhos das CPIs. Na semana passada, a tentativa de quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de Okamotto provocou um duelo entre governo e oposição na CPI dos Correios. Um acordo com os partidos da base aliada permitiu ao PT derrubar a iniciativa da oposição. Logo no início da sessão de ontem da CPI dos Bingos, ACM apressou-se em apresentar um requerimento convocando Okamotto. Dos sete senadores que estavam no plenário, naquele momento, nenhum era do PT. O requerimento foi aprovado sem discussão e causou surpresa porque Okamotto não havia sido citado, até agora, no caso dos bingos. A tropa de choque petista na CPI admitiu, pouco depois, as dificuldades em enfrentar a oposição nessa comissão. O senador Tião Viana (PT-AC), disse ter sido informado com antecedência sobre o pedido de convocação de Okamotto, mas reconheceu ser complicado barrar as ofensivas da oposição na CPI dos Bingos. "Como é que vou fazer isso com três ou quatro senadores?", questionou Tião Viana. ACM justificou o requerimento pela menção feita pelo advogado Rogério Buratti à suposta contribuição de aproximadamente R$ 2 milhões das casas de jogos à campanha eleitoral de Lula, em 2002. Segundo o pefelista, Okamotto participou "ativamente" da campanha e, por isso, deve ser chamado para depor. O senador baiano adiantou que não vai retirar o requerimento aprovado ontem pela CPI - única forma, pelos procedimentos regimentais, de anular a convocação de Okamotto. Ele rejeitou a tese de uso político da CPI e disse possuir informações de que o presidente do Sebrae "tinha ligações com a jogatina". "Não é [uso] político, mas, se fosse, seria legítimo. As outras CPIs derrubaram essa convocação politicamente", argumentou ACM. O presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), saiu em defesa do correligionário e afirmou que a comissão não confunde seus trabalhos de investigação com política. "Não há exploração política, de forma nenhuma. Se eu quisesse criar problema (para o governo), já teria feito isso", afirmou Efraim, numa provável referência ao requerimento pedindo a convocação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O relator da CPI, Garibaldi Alves (PMDB-RN), disse que o requerimento de ACM o "pegou de surpresa" e que, "em princípio", não vê ligação entre Okamotto e as investigações da comissão. O presidente do Sebrae saldou a dívida tomada por Lula, em 2002, para pagar viagens internacionais e passagens aéreas à primeira-dama Marisa Letícia. Lula e Okamotto são amigos desde os anos 70.