Título: Para Dilma, denúncia de uso irregular de cartões corporativos foi 'leviana'
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Política, p. A15

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, partiu para o contra-ataque, ontem, às denúncias de suposto uso de notas frias para justificar saques com cartões corporativos da Presidência da República. Questionada pelo Valor sobre o uso desses cartões, Dilma anunciou medidas imediatas, qualificou as denúncias como "lamentáveis" e reiterou que o governo anterior fez compras em maior quantidade da mesma empresa, tida como suspeita de emitir notas frias de quem o governo atual adquiriu material de escritório. "É lamentável que se divulgue que o governo estava recebendo nota fria sem olhar minimamente para o caso", disse a ministra, fitando os jornalistas que a aguardavam na saída de reunião no Tribunal de Contas da União (TCU), em Brasília. "Tem certo tipo de acusação que não pode ser levantada levianamente", completou Dilma. A ministra disse que a empresa suspeita de dar notas frias ao Palácio do Planalto é "fornecedora sistemática da Presidência da República desde o ano 2000". Dilma reiterou que essa empresa emitiu uma quantidade "bastante grande" de notas em 2000, 2001 e 2002. Em 2003, segundo ela, houve queda na emissão dessas notas. Em 2004, a redução foi ainda maior. E, em 2005, não foram encontradas notas. A ministra não citou o nome da empresa, mas a investigada pelo TCU é a FR Comércio Serviço e Representação Ltda, que vendeu material de escritório à Presidência e cujo endereço nas notas fiscais não existe. "Se a empresa tem alguma irregularidade, ela tem uma irregularidade há muito tempo", bradou Dilma. "Abri uma sindicância. Queríamos ver se a empresa era uma fornecedora sistemática da Presidência da República. Descobrimos que essa mesma empresa é fornecedora desde 2000 para vários órgãos federais e tem farto histórico de vendas para o governo", completou. A ministra disse que a Receita Federal e o Fisco do Distrito Federal foram acionados para investigar a empresa emissora de supostas notas frias e que o governo modificará a sua prática de compras de pequenos valores a partir de agora. Segundo ela, será criado um cadastro para habilitar as compras menores do governo federal, como as de material de escritório. Será "algo nunca feito no governo", sustentou a ministra Dilma Rousseff. "Nós somos os maiores interessados em apurar essa questão das notas frias", assegurou. Na semana passada, o senador oposicionista Álvaro Dias, do PSDB do Paraná, divulgou documentos do Tribunal de Contas da União, revelando que uma funcionária da Presidência da República usou pelo menos quatro notas frias para justificar saques em dinheiro com cartão corporativo do governo. As despesas são referentes a compra de cartuchos para impressoras. O problema é que a empresa FR, do Distrito Federal, aparece no registro da Receita Federal como uma companhia da área de alimentos. No endereço registrado na Receita Federal, funciona um pequeno comércio de alimentos e não há cartuchos de impressora à venda.