Título: Guaranhuns revela caixa 2 de R$ 9 milhões em 2002
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Política, p. A16

Crise Dono da empresa não convence parlamentares sobre repasse ao PL

Um novo esquema de financiamento de campanhas eleitorais pode ter sido revelado ontem na CPI do Mensalão. O dono da Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações S/C Ltda, José Carlos Batista, informou, ao depor na CPI, que entre fevereiro e novembro de 2002 movimentou R$ 9 milhões em sua conta pessoal e que o dinheiro era parte de negociação envolvendo as campanhas de partidos . "Houve confirmação. Mas não revelou o nome das legendas. É uma linha de trabalho para a CPI", disse o deputado Neucimar Fraga (PL-ES). Apesar de não dizer quais partidos ajudou, Batista disse que não havia a participação de Marcos Valério de Souza, suspeito de coordenar o esquema de pagamento de mesada a parlamentares no esquema. "É uma prova de que esse mecanismo é mesmo anterior a Valério", afirmou Fraga. Batista começou o depoimento com evasivas. "Vou usar o meu direito de me calar." A frase defensiva para não se incriminar foi usada mais de 30 vezes durante as mais de quatro horas de seu depoimento à CPI Mista do Mensalão. A empresa foi usada por Marcos Valério para repassar recursos ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O principal deslize de Batista foi sobre o dinheiro repassado ao PL. Ao iniciar o depoimento, ele revelou a existência de um contrato com a SMP&B, de Marcos Valério, para a aquisição de Certificados de Participação em Reflorestamentos. O documento autoriza a compra de até R$ 10 milhões em títulos. "Naquela oportunidade, em razão do valor e do objeto da intermediação, indaguei sobre o que realmente se tratava e me foi assegurado que estaria intermediando a aquisição de certificados para poder fazer os pagamentos das dívidas da campanha do PT e sua coligação com o PL", disse. Batista não conseguiu dar uma explicação convincente para o funcionamento do acordo. Disse ter recebido R$ 4 milhões para a aquisição dos certificados. O empresário afirmou que a compra foi feita. Mas ele também revelou que os R$ 4 milhões foram repassados integralmente a Costa Neto. Os deputados Fernando Coruja (PPS-SC) e Júlio Redecker (PSDB-RS) conseguiram tirar contradições do depoente. "Claro que esses títulos são frios, não existem", concluiu Coruja. Batista não comentou o assunto. A Redecker, o dono da Guaranhuns confirmou a existência dos títulos. "É impossível o senhor ter comprado os títulos e ter feito também o repasse com o mesmo dinheiro. É evidente que tem uma outra fonte de recurso", disse o tucano, sem obter resposta do depoente. Até os valores são divergentes. Marcos Valério havia dito que repassou R$ 10 milhões ao PL. Costa Neto diz ter recebido R$ 6,5 milhões. Algumas desconfianças foram elencadas pelos parlamentares. "Ele representa a ligação desse tráfico fora do país que financiou Marcos Valério", disse a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP). A hipótese de lavagem de dinheiro vindo do exterior existe porque Batista aparece como o presidente da Esfort Trading, empresa com sede no Uruguai. O empresário já foi indiciado pela Polícia Federal por sonegação fiscal e crime contra o sistema financeiro, além de lavagem. A CPI vai aprovar a ida de uma comissão a Montevidéu, capital uruguaia, para investigar as transações com a Esfort Trading. Outro ponto divergente da depoimento de Batista foi levantado pelo deputado José Rocha (PFL-BA). Ele perguntou ao empresário sobre cheques depositados pela SMP&B em contas da Guaranhuns no Bradesco. Batista disse que não recebeu nenhum cheque e só operava pelo banco Sudameris. O rastreamento da quebra de sigilo bancário das contas de Marcos Valério apontam para diversos depósitos feitos por cheques administrativos do Banco Rural da SPM&B no Bradesco. Há, inclusive, uma lista de sacadores desses cheques. "Acho que temos de quebrar os sigilos dessas pessoas. Me parecem laranjas de todo o esquema", afirmou Rocha ao Valor. Batista revelou ligação antiga com o PL. Em 2001, trabalhou para o ex-deputado federal Moisés Lipnik (PL), morto em 2003. Diversas movimentações financeiras feitas pelo empresário para o deputado ainda estão sob investigação da Comissão de Valor Mobiliários (CVM).