Título: Governistas e oposição criticam relatório sobre Jefferson
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Política, p. A16

Parlamentares da oposição e do governo não respaldaram o relatório apresentado no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara pelo deputado Jairo Carneiro (PFL-BA) sobre o processo de cassação de Roberto Jefferson (PTB-RJ), apesar de ele ter recomendado a perda de mandato do ex-presidente do PTB. O que incomodou foi o fato de Carneiro ter argumentado que não foi comprovada a participação de deputados no suposto esquema do mensalão, denunciado por Jefferson. Parlamentares do PSDB, PT e PMDB que fazem parte das CPIs já cogitam, inclusive, apresentar um adendo ou voto em separado ao relatório de Carneiro. O problema regimental é que o voto em separado deve apresentar um parecer contrário ao recomendado pelo relator o que, neste caso, seria, então, a preservação do mandato de Jefferson. O parecer de Jairo Carneiro provocou forte descontentamento no PFL. "Ele só pode ter sido assessorado por alguém do PT", ironizou um parlamentar pefelista. O temor do partido é que se o mensalão aparecesse como uma tese morta, as punições aos demais parlamentares envolvidos no esquema de saques de recursos das contas de o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza poderia ser descartada. Para deputados e senadores do PFL e outros partidos, o parecer deveria ter mencionado de forma incisiva a participação de Jefferson num esquema confesso de caixa 2, uma vez que ele recebeu R$ 4 milhões do PT. Disse que não vai revelar para quem distribuiu o dinheiro. Em reunião do partido realizada na tarde de segunda-feira, horas antes de o pefelista ler o seu voto sobre o processo, dirigentes do PFL telefonaram para o relator e o alertaram sobre o ônus político de seu parecer. Falaram com ele e fizeram duras críticas o presidente nacional da legenda, senador Jorge Bornhausen (SC), e o senador Antonio Carlos Magalhães (BA). Conforme participantes da reunião, ambos disseram a Jairo Carneiro que ele não poderia estar a serviço do baixo clero da Câmara e muito menos ceder a pressões do presidente da Casa, Severino Cavalcanti. Os dois senadores cobraram de Jairo Carneiro firmeza, e disseram que qualquer ato corporativo seria rejeitado pela legenda. Foi a partir da daí, com a intermediação do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), que Jairo Carneiro elaborou rapidamente um adendo em seu parecer. Nesse aditamento, ele afirma que só as CPIs poderão concluir de forma definitiva a existência ou não do mensalão. "O PFL não poderia, de forma alguma, ser responsável por um relatório que mais parecia peça definitiva dessa pizza", criticou um dirigente do PFL. O adendo ao relatório contentou os pefelistas. "Agora não há brechas", disse, aliviado, o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). A conclusão não é unânime. "Como o relator diz não ter provas do mensalão, fica a impressão de que ele ofendeu a honra dos parlamentares e deve ser cassado por isso. Se for cassado, deve ser por seu suposto envolvimento em financiamento ilegal de campanhas", ponderou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).