Título: Em Minas, Lula defende Aécio de vaias
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2005, Especial, p. A20

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ontem, em Minas Gerais, que a crise política é "extremamente grave". Em Uberlândia, o presidente pediu paciência à população para que os políticos envolvidos nas denúncias de corrupção sejam denunciados pelo Ministério Público e sejam efetivamente punidos. "Vamos ter de aguardar pacientemente o comportamento do Judiciário", disse Lula, lembrando que o poder judiciário é independente. O presidente voltou a dizer que os acusados injustamente merecerão desculpas. Citou um pefelista, o ex-ministro da Saúde Alceni Guerra, como exemplo de político injustiçado por denúncias infundadas, que levou dez anos para provar sua inocência. Lula esteve na cidade mineira para a solenidade de inauguração das obras de expansão do aeroporto local, que começaram de fato há muitos meses. Mais uma vez, Lula se comparou ao ex-presidente Juscelino Kubitschek. E afirmou que, no fim deste processo, o país terá de pedir desculpas as pessoas que estão sendo crucificadas por acusações leviana. "Nesse país, é preciso agir com maior seriedade", afirmou. "Quando alguém tenta fazer um processo de investigação como campanha política ou cena para a televisão, não está colaborando." Tendo ao lado do governador do Estado, Aécio Neves (PSDB), o presidente da República provocou a oposição, num dos mais duros discursos deste o início da crise política. Lembrou que já foi acusado de não saber governar, de ter inchado a máquina pública e de ter copiado a política econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Mas, de concreto, é que a média de empregos gerados em oito anos era de oito mil empregos por mês e que, em 32 meses, a nossa média é de 104 mil empregos por mês", afirmou ele. "Os inimigos podem dizer o que quiserem." Lula relacionou as críticas que tem sofrido ao fato de as pesquisas o terem apontado como "imbatível" nas eleições de 2006. E garantiu que reage aos ataques com tranquilidade. "Não somos eleitos para ficar com raiva de quem não gosta de nós mas para governar para 160 milhões de brasileiros", disse. No palanque de Uberlândia, o presidente saiu em defesa de Aécio Neves, um dos seus possíveis adversários pelo PSDB em 2006. O governador foi vaiado enquanto tentava discursar. Lula deu uma bronca no povo. "Eu me sinto desconfortável", comentou, ao falar sobre as vaias que Aécio havia recebido. Segundo ele, "é muito desagradável" um presidente estar em uma inauguração e presenciar cena como essa. E ressaltou que nem ele nem Aécio estão em campanha eleitoral. "Gostaria de levar em conta que o respeito às pessoas é condição básica, não quero que ninguém goste mais de mim ou mais do Aécio", afirmou, sendo aplaudido pela população que assistia à solenidade, cerca de 2 mil pessoas de acordo com a Polícia Civil. Segundo relato, ao ser cumprimentado por uma funcionária que disse ainda ser petista, Lula afirmou: "muito bem". O presidente saiu sem falar com a imprensa, que não foi avisada da cerimônia. Em discurso em Uberlândia, o presidente voltou a citar o nome de Juscelino.(Com agências noticiosas)