Título: Juro alto e câmbio provocam queda de 2,7% na indústria paulista em julho
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Brasil, p. A2

A indústria paulista mostrou uma queda generalizada no nível de atividade no mês de julho. Pela primeira vez no ano, todos os ramos industriais mostraram variações negativas, com exceção de máquinas e equipamentos de escritório, cuja produção avançou apenas 0,1%. Dentre 17 setores industriais, a maior queda foi verificada na produção de alimentos e bebidas, indústria bastante atrelada ao consumo doméstico, que cedeu 7,1% em julho na comparação com o mês anterior, segundo números com ajuste sazonal. A falta de dinamismo levou o indicador do nível de atividade (INA), que representa o agregado dos setores, a cair 2,7% em julho. Sem ajuste sazonal, o recuou ficou em 2%. No ano, o INA, calculado em parceria pela Federação e pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp), acumula crescimento de 3,9%. As entidades afirmam que o indicador apresenta tendência de estabilidade desde o final do ano passado, com altas e quedas apenas pontuais, incapazes de mudar o rumo da indústria paulista. Na avaliação da Fiesp e do Ciesp, os juros altos e o câmbio valorizado têm impedido uma alta consistente da produção. " Em outros anos, julho se caracterizou como um mês positivo, mas como é o primeiro mês de variação negativa desde março, é cedo para se falar em uma tendência de queda da produção", comenta Paulo Francini, diretor do departamento econômico da Fiesp. Segundo ele, o cenário macroeconômico atual faz com que a previsão para o curto prazo seja "mais de estabilidade no setor do que de recuo". Ainda assim, Francini afirma que há falta absoluta de dinamismo na atividade industrial. "Chegamos a desconfiar que os crescimento dos meses de maio (0,1%) e junho (2,2%) poderia representar uma retomada, mas julho trouxe de volta a expectativa de estabilidade", completa. O levantamento de conjuntura revelou que, com exceção das variáveis que dizem a respeito a salário, as demais apresentaram retração entre junho e julho. O salário real médio ficou quase estável, com alta de 0,2%. As horas trabalhadas na produção cederam 1,6%, enquanto as horas médias recuaram 1,8%. O nível de utilização da capacidade instalada passou de 82,8%, em junho, para 81,1%. As vendas reais da indústria ficaram 2,7% menores. No ano, as vendas ainda crescem 12,8% em relação ao mesmo período de 2004. No setor têxtil, por exemplo, as vendas reais recuaram 4,6% em julho, enquanto a indústria de produtos químicos, petroquímicos e farmacêuticos vendeu 1,2% a menos. Para Boris Tabacof, diretor econômico do Ciesp, o terceiro trimestre já começa com a luz amarela acesa. Houve recuo generalizado da produção em julho e isso, segundo Tabacof, é preocupante, pois mexe com as decisões do agentes econômicos. Em um cenário como esse, diz, compras e investimentos são adiados.