Título: Investimento não acompanha produção
Autor: Vera Saavedra Durão e Sérgio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Brasil, p. A4

O crescimento do investimento no segundo trimestre, de 4,5% na margem, entusiasmou. Mas, o economista Fernando Montero, da consultoria Convenção S/A, alerta para o fato de que no primeiro semestre "o balanço é ruim", pois o PIB cresceu 3,4%, ritmo superior ao do investimento, que subiu 3,1%, com consequente queda da participação dessa atividade no Produto Interno Bruto (PIB). Montero trabalha com projeção preliminar de crescimento de 3,5% para o PIB de 2005. Segundo seu raciocínio, para a formação bruta de capital fixo (FBCF) empatar com o produto até dezembro, tem que crescer muito forte na margem. Ou seja, duas vezes o PIB do segundo trimestre (1,4%) nos últimos dois trimestres. Na sua análise, a taxa de 4,5% foi um ótimo resultado, mas ele acredita que o cenário do segundo semestre "é uma interrogação". O salto do investimento aconteceu justamente no terceiro trimestre de 2004, quando cresceu 6,2% sobre igual período do ano anterior, o que indica uma base de comparação muito forte. O economista adverte que qualquer aumento da taxa de investimento virá por preço (taxa a preços correntes) e não por volume. O que importa para a oferta futura, diz ele, é o crescimento físico do investimento. O cálculo da formação bruta de capital fixo considera a produção de máquinas e equipamentos mais a importação de bens de capital menos exportação e mais a atividade da construção civil, que tem o maior peso nessa equação (70%). Montero observa que embora a construção civil tenha crescido no segundo trimestre, a venda de material de construção no varejo está caindo e também o consumo "formiga" (a aquisição pela população em geral de material de construção para fazer casas em mutirão ou mesmo melhorias) está fraco em relação a 2004. Por outro lado, a produção de insumos, como o cimento, vem crescendo. Aurélio Bicalho, economista da consultoria econômica do banco Itaú, é mais otimista. Para ele, o investimento deve continuar crescendo nos próximos dois trimestres, mas a taxas menores. "Não será suficiente para crescer acima do PIB". Sua projeção é de um crescimento do PIB de 3,2% e do investimento de 3% no conjunto do ano. "Seria melhor um crescimento maior do investimento para aumentar a sua taxa em proporção do PIB, que estimo em 20,4% do produto em 2005", diz ele. Bicalho aponta a indústria de máquinas e equipamentos como principal contribuição para a taxa de 4,5% do segundo trimestre ante o primeiro. A Global Invest trabalha com uma projeção de 4% para a taxa de investimento este ano. "É bem possível que cheguemos lá", considera Alex Agostini, economista-chefe da consultoria. Nesse caso, o investimento cresceria acima do PIB, que a Global Invest projeta em 3,5%. Agostini, ao contrário de Bicalho, espera expansão da atividade da construção civil no segundo semestre. "Além de ter maior peso na FBCF do que bens de capital, alguns fatores vão impulsionar essa atividade". E citou a volta do financiamento a taxa de 2% pela Caixa Econômica Federal, expectativa da queda do juro e aumento de crédito para o setor imobiliário. "Eles vão ajudar a acelerar esta retomada". O Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco considera o desempenho do investimento no segundo trimestre compatível com o consumo aparente de bens de capital e com a produção de insumos típicos da construção civil. Na avaliação dos economistas do banco, a retomada dos investimentos é um bom sinal para a trajetória futura dos juros, abrindo espaço para sua queda. O dado do investimento, destacam, sugere que a formação bruta de capital fixo chegou aos 20% do PIB no trimestre passado, fato que não se observava desde setembro de 1997. (VSD)