Título: Previsões para 2005 são revistas e ficam em 3,5%
Autor: Vera Saavedra Durão e Sérgio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Brasil, p. A4

Com o resultado do PIB no segundo trimestre, os economistas começaram a revisar para cima suas projeções para o crescimento da economia em 2005. As estimativas migram da casa de 3% - que deve se tornar um piso - para 3,5%, ainda que os analistas ressaltem que o PIB não deve repetir no segundo semestre o desempenho registrado entre abril e junho. A aposta é de que o investimento e o consumo das famílias deverão puxar o PIB nos próximos meses, enquanto o setor externo deve perder cada vez mais importância. O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, nota que, mesmo se a economia não crescer nada na segunda metade do ano, já está garantida uma expansão de 2,8%. Para um crescimento de 3%, é necessário um avanço de apenas 0,3% no terceiro e no quarto trimestres, na série livre de influências sazonais. Com a divulgação dos números do IBGE, Borges ficou confortável para manter sua projeção de crescimento de 3,5%. O economista-chefe da Global Invest Asset Management, Alex Agostini, revisou sua projeção de 3,2% para 3,5%, devido ao dinamismo maior que o esperado registrado pela indústria e nos serviços. O Unibanco elevou a sua de 3% para 3,3%. Os analistas avaliam que, no terceiro trimestre, a expansão deve perder um pouco de fôlego. Segundo o economista-chefe da MCM Consultores, Celso Toledo, a produção industrial deve ter recuado em julho, devido ao comportamento de indicadores antecedentes como a produção de automóveis e a expedição de papelão ondulado. Toledo continua a prever um crescimento de 3% para este ano, embora diga que os números do segundo trimestre sugerem que esse deve ser o piso. A questão, segundo ele, é que ainda há alguns fatores de incerteza, como a crise política e a expectativa de que o crédito não vai crescer tanto nos próximos meses. Mesmo esperando um arrefecimento do PIB para o terceiro trimestre, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) vai fazer uma revisão "importante" da sua projeção, informou Fábio Giambiagi, economista da instituição. No início do ano, o Ipea trabalhava com PIB de 3,5% e, depois do fraco desempenho do indicador no primeiro trimestre, baixou para 2,8%. A expectativa é que o número suba para 3% a 3,5%, embora Giambiagi não tenha menconado números. Ele adiantou que o cenário de curto prazo é de desaceleração no terceiro trimestre e retomada no quarto, associada a três fatores: certeza da queda dos juros em setembro, efeito safra e dissídios salariais. Com inflação em queda, a expectativa é de que categorias como bancários, metalúrgicos e petroleiros obtenham ganhos reais de 2% a 5%. Com essa expectativa para a evolução do mercado de trabalho, o consumo das famílias deve ter papel preponderante no crescimento daqui para a frente. No segundo trimestre, houve expansão de 0,9% ante o primeiro desse componente da demanda, num movimento influenciado mais pela expansão do crédito do que pela melhora da renda e do emprego. Alguns analistas esperavam aumento de 1,5% a 2%, mas ainda assim avaliam que o resultado foi razoável, principalmente se comparada à queda de 0,2% registrada entre janeiro e março. Daqui para frente, a aposta é de que a recuperação do mercado de trabalho vai impulsionar o consumo privado. O investimento, por sua vez, tende a se beneficiar da esperada queda dos juros. E como a economia consegue crescer a um ritmo de 3,5% mesmo com juros reais na casa de 13%? Para Borges e Toledo, além do bom desempenho da economia global, uma das principais explicações é que as condições de crédito continuaram favoráveis, mesmo depois do aperto monetário ocorrido entre setembro passado e maio de 2005. Não houve encolhimento de prazos, o que faz o brasileiro continuar a se endividar, ainda que as taxas sejam estratosféricas. O crescimento de 3,5% é relativizado por analistas como Agostini. Se é acima da média de 2,4% dos últimos 10 anos, está bem abaixo da expansão dos emergentes, que deve ficar neste ano em 6,3%. A economia global deve avançar 4,3%, segundo o FMI. Para ele, se o cenário externo não estivesse tão favorável, o país cresceria menos que 3,5%, devido à combinação de juros altos e câmbio valorizado. (SL e VSD)