Título: PIB sobe 3,4% no semestre com impulso doméstico
Autor: Vera Saavedra Durão e Sérgio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura No segundo trimestre, alta foi de 1,4% sobre o primeiro

O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre cresceu 1,4% em relação aos primeiros três meses, já descontados os fatores sazonais. O desempenho confirmou que a retomada da atividade econômica foi puxada pelo investimento e pela indústria. Na comparação com o mesmo período de 2004, o produto cresceu 3,9% e no primeiro semestre a alta ficou em 3,4%, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O investimento - medido pela formação bruta de capital fixo (FBCF) - cresceu 4,5% ante o primeiro trimestre e 4,0% em relação ao segundo trimestre de 2004, sexto crescimento consecutivo neste tipo de comparação. A indústria, por sua vez, registrou alta de 3% e 5,5% nos mesmos períodos. Rebeca Palis, gerente do PIB trimestral do IBGE, avalia que os números do PIB revelam uma recuperação da economia mais centrada no mercado interno do que na demanda externa. "O aumento de 36% no crédito para pessoa física entre abril/junho e de 14% para pessoa jurídica, segundo o Banco Central, estimularam investimento, consumo das famílias e a própria indústria", explicou Rebeca. Como consequência, no primeiro semestre deste ano, a demanda doméstica puxou o crescimento do PIB. O conjunto formado pelo consumo das famílias e do governo, investimento e variação de estoques respondeu por 2,7 pontos percentuais (quase 80%) da expansão de 3,4% registrada no período. Em contrapartida, a contribuição do setor externo perdeu importância na comparação com o resultado da primeira metade de 2004. A diferença entre as exportações e as importações de bens e serviços contribuiu com apenas 0,7 ponto (cerca de 20%) do crescimento do primeiro semestre deste ano, de acordo com estimativas da LCA Consultores. Na primeira metade de 2004, o quadro foi diferente. Além de a economia ter crescido bem mais (4,6% ), o setor externo foi responsável por cerca de 30% dessa expansão. A questão é que, de janeiro a junho do ano passado, as exportações de bens e serviços avançaram 19% ante o mesmo período do ano anterior e as importações, 13,4%. Neste ano, com a valorização do câmbio, o resultado foi bem diverso, como nota o economista Bráulio Borges, da LCA. Rebeca, do IBGE, concorda. "Os dados mostram que as exportações, apesar de ainda estarem em alta, estão perdendo fôlego, com expansão de 12,9% ante 12,7% das importações no primeiro semestre", explicou. No segundo semestre, é provável que a contribuição do setor externo para o crescimento seja negativa, afirma o economista Guilherme Maia, da Tendências Consultoria Integrada. As exportações devem continuar a crescer, mas a um ritmo inferior ao das importações. Isso já ocorreu em agosto: faltando três dias para o fim do mês, as vendas externas aumentaram 20% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as compras cresceram 26%. As estatísticas do IBGE informam que na comparação com o trimestre anterior, o consumo das famílias cresceu 0,9% influenciado pelo crédito e pelo aumento da massa salarial, que cresceu 3,6%, impactada pelo aumento do emprego (3,5%), já que o rendimento médio real do período ficou estável em 0,1%, como explicou Cláudia Dionísio, do IBGE. O consumo do governo ampliou 1,1%. "Todos os componentes da demanda tiveram desempenho positivo neste trimestre", ressaltou Cláudia, lembrando o crescimento da taxa de formação bruta de capital fixo. Na comparação com igual trimestre de 2004, a indústria também foi destaque, com variação positiva de 5,5%. A agropecuária, cujas projeções indicavam taxa negativa, cresceu 3,2% puxada pelas safras de soja, feijão e mandioca, segundo o IBGE. Os serviços ampliaram 2,5%, sustentados por transportes (4%) e comércio (3,8%). O destaque negativo foi do setor de comunicação, que encolheu 1,7%, depois de ter retraído 3,2% no primeiro trimestre. Estas quedas consecutivas se devem à redução no segmento de telefonia fixa, com os interurbanos nacionais registrando queda de 18,7%. No cálculo da indústria, no PIB, todos os segmentos industriais avançaram. A extrativa mineral liderou com alta de 17,5%, a maior deste o quarto trimestre de 2000, estimulada pelo aumento da extração de petróleo por conta da entrada em operação de duas novas plataformas da Petrobras. A indústria de transformação avançou 4,1% e a de Serviços Industriais de Utilidade Pública (que mede o consumo de energia), 4,6%. A construção civil cresceu 3,7% amparada no aumento de 4,9% da população ocupada no setor. No primeiro trimestre, a construção evoluiu 0,6%.