Título: Mandelson evita fixar prazo para acordo
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Brasil, p. A5

A União Européia (UE) quer "intensificar" a negociação do acordo de livre comércio com o Mercosul, mas "sem prazo" para concluí-la. Foi o que declarou ontem ao Valor o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, na véspera de reunião ministerial birregional, em Bruxelas, para retomar a negociação depois de um ano de paralisação. Por sua vez, o Mercosul indica que uma retomada da negociação só será para valer com uma clara sinalização da UE de que vai melhorar sua oferta agrícola. Sem sinalização efetiva de Bruxelas, a situação continuará complicada, diante da reticência em setores industriais no Brasil, e principalmente na Argentina, sobre uma abertura dos mercados à concorrência européia. Os ministros do Cone Sul precisam mostrar que a relação custo-beneficio do acordo é vantajosa para suas indústrias, na medida em que um bom acesso dos produtos agrícolas ampliaria a demanda por tratores, fertilizantes e outros produtos da indústria. A questão é que a UE não tem colocado as cartas na mesa na Rodada Doha, na OMC, e analistas consideram difícil que Bruxelas vá além de declaração política, que depois não se traduz em concessão concreta quando a negociação chega aos detalhes técnicos. Mandelson e o Mercosul não querem definir data precisa para evitar o risco de novo fiasco, como ocorreu em outubro do ano passado em Lisboa. No entanto, o Fórum Empresarial União Européia-Mercosul (MBEF), que reúne pesos-pesados do mundo dos negócios dos dois blocos, tem pressa. Seus copresidentes Antonio Estrany (Mercosul) e Luiz Mira Amaral (UE) divulgaram comunicado, no qual deixam claro que o atraso na negociação significa perda de comércio e, portanto, de produção e emprego. O comunicado conclama os negociadores a melhorarem suas ofertas para permitir a conclusão do "maior acordo de livre comércio do mundo" em maio de 2006, em Viena, na conferência ministerial América Latina-Europa. Produtores agrícolas europeus, porém, continuam se opondo firmemente a um acordo UE-Mercosul, insistindo sobre "o perigo" da produção brasileira e argentina que, segundo eles, é mais competitiva também por não respeitar padrões sociais, sanitários e de bem estar animal que os europeus são obrigados a seguir. Para o principal negociador brasileiro, embaixador Regis Arslanian, a conclusão do acordo não está longe, mas reconheceu que os dois lados precisam fazer importantes movimentos. Mandelson também se declara "positivo e entusiasmado" sobre o futuro da negociação, mas não vai além disso. O coordenador europeu para a negociação com o Mercosul, Karl Falkenberg, foi mais explícito. Disse que será uma "surpresa" a colocação de novas ofertas na mesa amanhã. Falkenberg admite que também não "não sabe" como a negociação será reativa, mas ressalvou: "Vamos (para a reunião ministerial) de espírito aberto, ouviremos o Mercosul, e os ministros então definirão como avançar." Na última vez que houve negociação efetiva entre os dois blocos, em setembro do ano passado, ambos se acusaram reciprocamente de retrocesso nas ofertas. Em outubro, foi consolidado o fiasco em Lisboa. Este ano, houve duas reuniões técnicas, mas não se entenderam nem sobre o ponto de retomada.