Título: Regulamentação de salvaguardas contra a China deve sair antes de Furlan viajar
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Brasil, p. A5

O governo deverá regulamentar o decreto que permite salvaguardas (barreiras comerciais) contra produtos chineses antes da viagem do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan à China, na segunda quinzena de setembro, garantiu o próprio Furlan a uma delegação de sindicalistas chefiada pelo presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. O sindicalista pediu a Furlan que o governo apresse a regulamentação das salvaguardas e aumente a fiscalização nas fronteiras, portos e alfândegas para evitar o contrabando de produtos chineses, que, segundo disse ao ministro, já provoca demissões em massa, principalmente no setor têxtil. A China está disposta a negociar e até restringir voluntariamente a exportação de alguns de seus próprios produtos, para evitar a aplicação de salvaguardas, informou ontem o encarregado de assuntos comerciais da Embaixada da China no Brasil, ministro-conselheiro Wu Yuanshan. "Desejamos que os problemas surgidos no comércio bilateral sejam resolvidos de maneira satisfatória, pela negociação amigável", comentou Wu Yuanshan. Os chineses reconhecem as pressões sofridas pelo governo brasileiro da parte de empresários do setor têxtil, mas esse é um setor que ocupa uma pequena parte do comércio entre os dois países, lembrou o diplomata. Os produtores brasileiros de calçados, máquinas, produtos de ótica, têxteis e brinquedos se queixam de concorrência desleal das importações chinesas e do contrabando de produtos daquele país. Paulinho, da Força Sindical, cobrou do governo maior número de verificações na alfândega, para reprimir a entrada de mercadorias no país com guias falsificadas de importação. Lembrando que a China atendeu às reivindicações brasileiras para eliminação de barreiras locais que dificultavam a exportação de soja e derivados àquele país, Wu Yuanshan, garantiu que "qualquer problema poderá ser resolvido pela negociação", porque a China leva a sério o acordo de "parceria estratégica" firmado com o Brasil. Segundo o diplomata chinês, grande parte da reação contra as vendas chinesas de têxteis se deve ao fim, neste ano, das cotas internacionais para têxteis, determinado em acordo da Organização Mundial do Comércio (OMC). "O objetivo da OMC é liberalizar o comércio; os países têm de estudar como aumentar a competitividade de seus próprios produtos", argumenta. São as empresas estrangeiras que vem se deslocando para a China, em busca da mão-de- obra barata e de alta qualidade do país, afirma o diplomata. A maior parte do lucro com as vendas externa fica nas mãos dessas empresas estrangeiras, garante. Furlan vai à China em 19 de setembro, a convite do Ministro do Comércio chinês, Bo Xilai, com a expectativa de convencer os chineses a aceitar restrições voluntárias de exportações em alguns dos produtos considerados pelos empresários brasileiros ameaça à sobrevivência do setor privado no Brasil. Wu Yuanshan insiste no argumento - que provavelmente será repetido por Bo Xilai - de que o relacionamento econômico entre Brasil e China deve ser visto "de um ponto de vista mais global". Os chineses enfatizam o interesse do país pelos investimentos no Brasil, em mineração, produção de alumina, construção de gasodutos e outras obras de infra-estrutura. O investimento da gigante do aço chinesa Baosteel em um pólo siderúrgico no Maranhão só não avança mais rápido porque enfrenta problemas no Brasil, com as autoridades ambientais, exemplificou o diplomata. Os brasileiros deverão levar à China o argumento de que, neste ano, a balança de comércio passou a registrar um grande desequilíbrio em favor dos chineses, embora a China mantenha o posto de terceiro maior mercado para mercadorias brasileiras no exterior. As vendas aos chineses, no primeiro semestre, aumentaram apenas 4% em relação ao mesmo período do ano passado, o que levou a China a perder participação relativa na pauta do Brasil, de 6% do total para pouco menos de 5%. Já as importações de mercadorias chinesas pelo Brasil aumentaram mais de 47%, o que fez esses produtos passarem de 5,5% para quase 7% do total das compras de mercadorias estrangeiras feitas no Brasil.(SL)