Título: Delúbio envolve PCdoB e PSB nos saques do Rural
Autor: Cristiano Romero e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2005, Política, p. A6

O ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, entregou documento à CPI Mista do Mensalão no qual envolve o PSB e o PCdoB no esquema de caixa 2 coordenado por ele e pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para pagamento de dívidas das campanhas eleitorais de 2002. Únicos partidos da base aliada não atingidos até o momento por denúncias, as duas legendas foram apontadas por Delúbio como beneficiárias dos empréstimos de R$ 55 milhões tomados pelas empresas de Marcos Valério junto ao Banco Rural. Durante depoimento à CPI, no dia 18 de agosto, Delúbio se comprometeu a entregar uma relação dos recebedores dos empréstimos tomados pelas empresas SMP&B e DNA, de Marcos Valério. Tinha oito dias para repassar a lista à comissão. Na quarta-feira, 24 de agosto, o advogado de Delúbio, Arnaldo Malheiros, fez chegar à secretaria da CPI uma carta assinada pelo ex-tesoureiro do PT. No texto, ao qual o Valor teve acesso, o petista afirma não ter, "neste momento, condições de nominar as pessoas físicas que sacaram os valores". A carta lista apenas os partidos beneficiários. PL, PT, PTB e PP, além do PSB, do PCdoB e "de parte do PMDB" são apontados como os recebedores do dinheiro. No documento, Delúbio não cita valores. Mas, em depoimento às CPIs do Mensalão e dos Correios, o ex-tesoureiro confirmou que os empréstimos chegaram a R$ 55 milhões. "O fornecedor do dinheiro é o senhor Marcos Valério, de quem considero que o Partido dos Trabalhadores é devedor. Desconheço a lista por ele apresentada à essa Comissão", escreveu o petista, ao fazer referência a uma lista de sacadores feita por Marcos Valério e entregue às CPIs há um mês. Líderes do PCdoB e do PSB se irritaram com a revelação feita por Delúbio. "É preciso deixar bem claro que, nas quebras de sigilo feitas pelas CPI, não há um só nome ligado ao PSB ou ao PCdoB apontado como sacador das contas do Banco Rural", rebateu o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES). O deputado pediu ao ex-tesoureiro que aponte para quem repassou os valores: "É preciso que ele diga para quem entregou". Já o líder do PCdoB na Câmara, Renildo Calheiros, acha que se trata de uma estratégia de Delúbio. "É uma forma de colocar todos os partidos no meio da crise", disse. Casagrande concorda. "Querem enlamear todo mundo para ficar fácil de se salvar", acrescentou. "Delúbio está agindo no sentido de não esclarecer os fatos e não colaborar com a comissão. O documento entregue por ele é evasivo", disse o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS). O parlamentar vê na carta entregue pelo ex-tesoureiro do PT uma estratégia semelhante àquela adotada pelo Palácio do Planalto. "É uma posição semelhante à do governo do presidente Lula, que fala de investigações para não colabora para elas", afirmou. E acrescentou: "O PT, até agora, não esclareceu nada. Delúbio segue nessa mesma linha". Ouvido pelo Valor, o advogado do ex-tesoureiro petista disse que a carta segue a postura adotada por Delúbio desde o início da crise. "Meu cliente mantém a iniciativa de não delação", explicou. Redecker quer ouvir os novos partidos envolvido - PSB e PCdoB. "Os dirigentes dessas legendas devem dizer se as afirmações de Delúbio são verdadeira. Se forem, devem dizer quem recebeu e em quais condições", disse. Integrante da comissão, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) afirmou que "as relações entre o PCdoB e o PT foram políticas dentro do que determina a legislação eleitoral". O deputado Moroni Torgan (PFL-CE) classificou o documento de Delúbio como "ridículo". "Devemos cobrar dele o combinado. Ninguém gasta dinheiro do partido sem ter uma relação do destino e dos recebedores dos recursos. O documento entregue é genérico e devemos insistir para ele enviar o prometido", disse. A carta enviada por Delúbio à CPI foi o primeiro documento recebido pelas comissões de inquérito a tratar oficialmente de um possível envolvimento de PSB e PCdoB no esquema de levantamento de recursos orquestrado por Marcos Valério. (TVJ)